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Thursday, January 30, 2014

ANARQUIA, ANARQUISMO OU ANARQUISTAS (Berlim, c. 1915-1921; Moscou, c. 1919-1930; Estados Unidos, década de 1930-2000).



 
ANARQUIA, ANARQUISMO OU ANARQUISTAS (Berlim, c. 1915-1921; Moscou, c. 1919-1930; Estados Unidos, década de 1930-2000).




Um grupo de alemães se reuniu em torno da Editora Malik (v.) e das revistas Freie Strasse (Rua Livre, Berlim, 1915-1918) e Einzige (Único, Berlim, 1919-1921). Esse grupo, formado por artistas plásticos e escritores de vanguarda, apresentou manifestas tendências Anarquistas, promovendo eventos nas portas das fábricas, onde as revistas eram distribuidas. A revista Rua Livre lançou seis números editados por Franz Jung e Raoul Hausmann, publicados pela Editora Rua Livre. Foram colaboradores da publicação Johannes Baader, artista radical nihilista que conquistou tremenda reputação no movimento Dadaísta, em Zurique, antes se tornar um dos líderes do Dadaísmo em Colônia, juntamente com Max Ernst. Baader ficou conhecido como o Superdadá (Oberdada) (MARCUS, 1989, 1990, 2009).

A revista publicou vários Manifestos, lidos em performances teatralizadas (v. Performances): o coeditor da publicação foi o artista plástico Richard Oering (1889-1940) que, publicou poemas na revista Aktion (Ação). A revista Único foi editada por Anselm Ruest (1878-1943), escritor, crítico de arte e autor de obras de filosofia; e seu primo, o médico Mynona, ambos assíduos colaboradores de várias publicações Dadaístas. A revista foi publicada na época politicamente conturbada na Alemanha, depois que o país perdeu a I Guerra Mundial. Entre os colaboradores, vários Anarquistas reconhecidos como Albert Ehrenstein, Hugo Kersten, Rudolf Leonhard, Walter Mehring, Ruest, Max Stirner e Arthur Segal. A revista se transformou em forum Anarquista; e se fundiu, depois de censurada, com a publicação da desconhecida Liga dos Individualistas. Quando os nazistas ascenderam ao poder, Ruest, anarquista na melhor tradição de Max Stirner, foi obrigado a emigrar para a França (1933).

A Anarquia se fez presente em outros países, como na Rússia, com o primeiro Grupo Comunista-Futurista [KOM-FUT] (v.). Na década de 1920 as revistas Lef e Novy Lef (v.), foram editadas por V. V. Maiakovsky com o concurso de vários escritores e artistas plásticos, quase todos oriundos de círculos Anarquistas, como o escritor e burocrata Osip Brik, Bóris Arvatov, Viktor Chklovsky, o cineasta Esfir Chub, Aleksandr Rodchenko, Sergey Tretiakov e Vitor Pertsov

A partir do começo da década de 1970, a presença das idéias do Grupo do Situacionismo Internacional ou Grupo SI (v.), que encerrou suas atividades em 1972, exerceu grande influência em muitos dos aspectos da cultura alternativa, especialmente da Anarquista, entre outras, na Europa e Estados Unidos. O termo Situacionismo ou Situacionista passou a descrever grupos e indivíduos rebeldes ou marginalizados, atuantes na Sociedade do Espetáculo (DEBORD, 1971), como alguns grupos radicais de rock, punks e outros. A densidade dos textos situacionistas originais (BERNSTEIN, CONSTANT, DEBORD, FREY, GILMAN, KHAYATI, VANEIGEM, VIÉNET, outros), foi reapresentada fracionada, fora de seu contexto original, cultural e político do pensamento marxista profundo sobre a sociedade do espetáculo. Alguém ouviu falar, sem se aprofundar nos significados; e, termos como Detonamento (Detournement), que traduzi fora de seu contexto literal, mas dentro do contexto real; e Espetáculo, foram recuperados pela sociedade de consumo e apresentados descontextualizados da fundamentada apresentação original.

O Grupo do Situacionismo Internacional (SI, v.) influenciou a linguagem dos fenômenos do rock, e do punk. O Grupo Feederz mostrou claramente a sua consciência das teorias situacionistas, pois ficou conhecido por provocar a audiência com seu Detonamento. Muitos grupos de hard rock incluíram idéias e teorias situacionistas nas letras de suas músicas, como os Pregadores Maníacos de Rua (Maniac Street Preachers), Nação de Ulisses (Nation of Ulysses) e Joana do Arco (Joan of Arc). O álbum Feliz Suicídio, Jim! (Happy Suicide, Jim!), do Grupo O Amor Mata Teorias (The Love Kills Theory), mostrou abertamente a influência situacionista em muitas das letras de suas canções. Na década de 1990 o SI também influenciou o Harcore Punk, e os grupos CrimeS.A. (CrimethInc.), Foi (Is Gone), Seu Herói (His Hero) e Orquídea (Orchid), que, nas suas músicas, mencionaram ou se referiram às teorias do Grupo do SI. Outros artistas de rua norte-americanos como Brof, NeverWork e Mudwig, cujas intervenções urbanas e práticas subversivas podem ser encontradas em símbolos e signos inscritos em muros e paredes, na Europa e América.

A rota da influência do SI pode também ser traçada no desenvolvimento de grupos novos e radicais como o Exército de Liberação (Liberation Army), o Neoísmo (Neoism), o Sociedade Livre (Libre Society) e Mark Divo, entre outros. Analisando em termos políticos vários elementos da crítica politizada do Grupo do SI influenciaram vários grupos Comunistas, entre outros esquerdistas, com ênfases e interpretações diversas nas quais combinaram conceitos situacionistas com grande variedade de outras perspectivas. Entre esses, o Grupo da Brigada Raivosa (Angry Brigade); o Grupo (Holandês) Provo ou Grupo Holandês Jovem Problemático (Amsterdã; v.); o Grupo King Mob (Inglaterra), que editou o Heatwave Magazine (Ondaaquecida) e que, posteriormente, se associou, por breve período, ao Grupo do SI. Nos Estados Unidos vários grupos como o Máscara Negra (Black Mask), que mudou de nome Para cima Contra o Muro Filhos da Puta (Up Against the Wall Motherfuckers), os Homens do Tempo (Weathermen) e o Trabalhador Rebelde (Rebel Worker), entre outros. Na mesma época outros grupos como Recupere as Ruas (Reclaim the Streets), e o Adbusters se viram criando situações, e praticando a técnica do Detonamento dos anúncios publicitários.

Analisando em termos culturais, a influência das idéias do Grupo do SI foi ainda maior, quase ilimitada, porém bem mais difusa. Na década de 1970 vários movimentos como o punk, o hard rock, o rock-punk, beberam na fonte das idéias do SI, pensamento expressos nas letras das músicas, sendo que alguns absorveram essas idéias através da influência de segunda mão de outros grupos, como o King Mob e o Jamie Reid, e dos discos da Factory Records (Discos Fábrica) de Tony Wilson, que divulgou A Coluna Durutti [The Durutti Column], nome inspirado na Colagem de André Bertrand do SI, chamada de O Retorno da Coluna Durutti (Le Retour de la Colonne Durutti). Bertrand, por sua vez, retirou o nome de grupo Anarquista que atuou na Guerra Civil Espanhola (c. 1936-1940). (HOME, 2000)

Na década de 1980 o anarquista inglês Larry Shaw editou uma série de livros de bolso denominados de Tempos Espetaculares (Spetacular Times), que buscavam simplificar a compreensão das idéias do Grupo do SI (v.). No final da década alguns aficionados das primeiras redes na INTERNET, e-zines e hackers, na França como samizdat, N0 Way, UHF e nos Estados Unidos Phrack, CDC entre outros, foram influenciados pelas idéias do SI, não mais diretamente, mas por influência da capilaridade da transmissão das idéias revolucionárias na sociedade do espetáculo. O escritor Thomas de Zengotita, recentemente descreveu em Mediada (Mediated), a nossa sociedade do espetáculo como Zeros Ululantes (Roaring Zeroes), no espírito similar às idéias do Grupo do SI (HOME, 2000)

Textos e documentos originais do Situacionismo Internacional, com algumas imagens, se encontram publicados, traduzidos em inglês: (v.)
 
DEBORD, G. Guy Debord and the Situationist International: Texts and Documents/ edited by Tom McDonough. An October book. Cambridge, Massachussetts – London, England: The MIT - Massachussetts Institute of Technology Press, 2001. 2004. 402p., il. 18 cm x 23 cm.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

HOME, S. The Assault on Culture: Utopian Currents from Lettrisme to Class War. London: Aporia Press and Unpopular Books, 1988. 2nd ed., 2000. pp. 22-30.

 
INTERVIEW. HOME, S. About the Historification of the Situationist International: Ralph Rumney in conversation of Stewart Home, Paris, 07 April, 1989. London: Art Monthly, June, 1989.

INTERNET. Wikipedia, the free encyclopedia. Situationist International. 17 março, 2010. Disponível em:

 

MARCUS, G. Lipstick Traces: A Secret History of the Twentieth Century. Twentieth Anniversary Edition. Cambridge, MS: The Belknap Press of Harvard University Press, 1989, 1990.


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