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Tuesday, August 19, 2014

SEMANA DE ARTE MODERNA OU SEMANA DE 22 (São Paulo, fev., 1922).

SEMANA DE ARTE MODERNA OU SEMANA DE 22 (São Paulo, fev., 1922). Oswald de Andrade (1914-1972) foi poeta, escritor, jornalista e editor paulista. Andrade foi um dos principais mentores e divulgadores da Semana de Arte Moderna, organizada pelas elites paulistanas e conhecida como a Semana de 22, para a qual ele cunhou o termo Futurismo Paulista (1921). No início da década de 1920, os anos foram cruciais, na valorização da cultura brasileira, na certa levada de roldão por uma sociedade paulistana próspera, devido aos ditos, Barões do café, os fazendeiros que enriqueceram com a exportação do nosso produto, até a quebra da Bolsa de Nova York (maio, 1929). O catálogo da dita, Semana de Arte Moderna, foi concebido e realizado por Emiliano Di Cavalcanti (Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo, 1897-1976), que ilustrou a capa: a figura, desenhada com traços firmes, mostrou linhas negras marcantes sobre fundo claro, no qual se destacaram as grandes letras coloridas. Essa ilustração de traços livres se tornou clássica no Modernismo brasileiro e se encontra reproduzida (AMARAL, 1992). O programa cultural foi discretamente divulgado pela imprensa paulista e nada indicava o grande escândalo que se seguiu, no segundo e terceiro dia das apresentações. A idéia da semana foi atribuida ao pintor Emiliano Di Cavalcanti, um dos principais organizadores; ele, juntamente com Ribeiro Couto (1898-1963), natural de Santos mas residente em São Paulo, viajou ao Rio de Janeiro para convidar alguns intelectuais cariocas, como Ronald de Carvalho (1893-1935) e Renato de Almeida (1895-1981). Aderiu ao grupo o acadêmico Graça Aranha (José Pereira da Graça Aranha, 1868-1931), nome de grande prestígio nacional desde a publicação de seu romance Canaã (1902); foi este escritor quem fez a conferência de abertura, O Espírito Moderno, no momento em que começou o Modernismo no Brasil. O escritor, intelectual, e colecionador de arte internacional Mário de Andrade (1888-1945), ficou conhecido de todos os intelectuais modernistas da geração de Oswald de Andrade e de Tarsila do Amaral; ele foi um dos organizadores da Semana de 22. Na ocasião Mário participou das inúmeras reuniões para organização da mesma, que ocorreram na garçonière que Oswald de Andrade mantinha em São Paulo (1922-1924). Mário participou da famosa e mais do que conhecida fotografia publicada dos patrocinadores da Semana e pertenceu ao Grupo dos Cinco da arte brasileira (jun. - dez., 1922). Foi organizada exposição de Artes Plásticas: entre os artistas convidados a exporem suas obras, destacamos a presença do escultor Victor Brecheret (1894-1955), que mostrou sua genialidade de sempre na exposição organizada no saguão do Theatro Municipal de São Paulo. Dessa mostra participou com 07 obras o suíço John Graz (1895-1980): posteriormente, ele tornou-se colaborador da revista Klaxon, porta-voz do grupo dos modernistas paulistas (1922). O Modernismo foi responsável pela permanência de J. Graz no país: ele havia decidido voltar a Europa, mas com as oportunidades que a Semana de 22 passou a oferecer, foi-lhe permitido sobreviver em São Paulo. Na mostra da Semana de Arte Moderna, Anita Malfatti (1896-1964) apresentou obras nas várias técnicas que dominava: nanquim sobre papel, na Casa de Chá; pastel sobre papel, na O Homem das Sete Cores; pastel, em Moemas; gravura, Árvores Japonesas (1915-1916, metal, água-tinta em três cores, coleção Elizabeth Cecília Malfatti); e os desenhos a carvão, Cristo e São Sebastião. Outras obras em exposição foram os quadros, óleo sobre tela: A Estudante Russa; O Homem Amarelo (segunda versão); O Japonês; A Mulher de Cabelos Verdes; e duas paisagens, A Ventania e Penhascos. Essas obras foram anteriormente apresentadas na mostra individual da artista, inaugurada na elegante loja de departamentos Casa Mappin (São Paulo, 12 dez., 1917). E Vicente do Rêgo Monteiro (1899-1970), que não voltou de Paris onde expunha sua arte de raízes brasileiras, enviou algumas obras. Na época da Semana de 22, Tarsila de Abreu Amaral (1886-1973) encontrava-se em Paris e, contráriamente ao que muitos pensam, não apresentou suas pinturas na Semana de Arte Moderna. A artista voltou ao Brasil em junho do mesmo ano: nesse período formou com Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia (Paulo Menotti del Picchia, 1892-1988) e Oswald de Andrade, o grupo que ficou conhecido na arte brasileira como Grupo dos Cinco. O nome de Antônio Castillo de Alcântara Machado d´Oliveira (1901-1935), associou-se aos artistas e escritores paulistas modernistas. O jornalista, legítimo representante das tradicionais e abastadas famílias paulistas, não participou do grupo que patrocinou o evento: ele, no entanto, compareceu ao Theatro Municipal como uma das vozes discordantes, entre inúmeras outras. Alcântara Machado tornou-se modernista tardio, pois, mais tarde foi amigo de Oswald de Andrade, autor do prefácio de seu primeiro livro, a coletânea de contos Pathé Baby (1926). O jornal O Estado de São Paulo cobriu os eventos do Modernismo, iniciado com a Semana de 22, realizada no Theatro Municipal de São Paulo. A tônica foi de moderação: o jornal publicou na sua primeira pagina, na íntegra, a palestra A Emoção Estética na Arte Moderna, proferida por Graça Aranha (18 fev., 1922). A conferencia foi seguida da execução de música pelo virtuose Ernani Braga (Ernani Paiva Ferreira Braga, 1888-1948) e pela declamação de poesia, pelo jornalista, escritor e poeta Guilherme de Almeida (Guilherme de Andrade Almeida, 1890-1969), conforme se encontra no programa publicado do Theatro Municipal de São Paulo. O jornal paulista não reproduziu a palestra que o escritor carioca Ronald de Carvalho proferiu: A Pintura e a Escultura Moderna no Brasil, mas publicou sua critica contundente, irônica e mordaz. Essa palestra foi proferida no saguão do teatro, na segunda parte do primeiro dia da programação, quando tudo transcorreu na maior tranqüilidade, sem as ruidosas manifestações de protesto que marcaram os dois outros dias do evento (quarta-feira, 15 fev. e sexta-feira, 17). Na década de 1920 a pianista Guiomar Novaes (1894-1979), tornou-se a verdadeira embaixatriz da música clássica brasileira, com renome internacional, tanto na Europa como nos Estados Unidos. No segundo dia da programação a concertista executou vários solos de piano (E. Blanchet, peças de Villa-Lobos e duas músicas de Claude Debussy). Transcorreu no saguão a segunda parte do programa, quando o escultor, escritor e poeta Paulo Menotti del Picchia (1892-1988) proferiu sua palestra. Mário de Andrade igualmente proferiu palestra revolucionária nas escadarias do teatro: A Ecrava que não é Isaura. O publico, que lotava a sala do teatro não percebeu, e, quando se deu conta, Mário tinha terminado. Renato de Almeida (1895-1981) recitou no palco a sua Perennis Poesia; e foram apresentadas canções pelo barítono Frederico Nascimento Filho, acompanhadas ao piano por Lucília Villa-Lobos (Lucília Guimarães Villa-Lobos, 1894-1966) e pelo quarteto de cordas formado por Paulina d’Ambrosio (violino, 1890-1976), George Marinuzzi (violino), Orlando Frederico (alto) e Alfredo Gomes (violoncelo). No terceiro dia, sexta-feira, foi apresentado o festival com música de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com o trio de violino, violoncelo e piano formado com Paulina d'Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucilia Villa-lobos. As peças para canto e piano foram apresentadas com Mario Emma e Lucilia Villa-Lobos; as Historietas, foram contadas por Ronald de Carvalho (1893-1935); e a Sonata Segunda, para violino e piano, foi apresentada por Fructuoso Vianna (1896-1976) e Paulina d' Ambrosio. Na última parte do programa foram apresentadas três peças solo para piano de H. Villa-Lobos por Ernani Braga (1888-1948); e o Quarteto Simbólico: Impressões da Vida Mundana, com flauta, saxofone, celesta, harpa, piano e vozes em coro oculto, apresentado com Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e F. Vianna. Mário de Andrade e Oswald de Andrade participaram da mais do que conhecida fotografia dos patrocinadores da Semana, e ambos, posteriormente, pertenceram ao chamado Grupo dos Cinco da arte brasileira (v.). REFERÊNCIAS SELECIONADAS: AMARAL, As Artes Plásticas na Semana de 22. 5ª edição, revista e ampliada. São Paulo: Editora 34, 1970. 2001. 335p. 13,5 x 21 cm.. AMARAL, A. Blaise Cendrars no Brasil e os Modernistas. São Paulo: Editora Martins, 1970. AMARAL, A. Tarsila, a sua obra, o seu tempo. 2 v. São Paulo: Perspectiva, 1975. ARTIGO. TRIGO, L. Um modernista tardio. Rio de Janeiro: suplemento Prosa e Verso O Globo, 28 set., 2002, p. 06. TEIXEIRA LEITE, J. R. T. Dicionário Crítico de Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Paulo Mendes da Silva - Art Livre, 1988, p. 100.

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