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Monday, April 6, 2015

BIOGRAFIA: ANDRADE, Oswald de; José Oswald Antonio de Souza Andrade (1890-1954).

BIOGRAFIA: ANDRADE, Oswald de; José Oswald Antonio de Souza Andrade (1890-1954). Formado em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco (São Paulo, 1919), Oswald de Andrade foi poeta, escritor, jornalista e editor paulista. Andrade foi um dos principais mentores e divulgadores da Semana de Arte Moderna (v.), organizada pelas elites paulistanas e conhecida como a Semana de 22, para a qual ele cunhou o termo Futurismo Paulista (1921). Pouco depois de participar da Semana de Arte Moderna, O. de Andrade foi um dos artistas que formou o dito, Grupo dos Cinco na arte brasileira (jun. - dez., 1922), juntamente com Mário de Andrade (1888-1945), Tarsila do Amaral (1886-1973), Anita Malffatti (1896-1964) e Paulo Menotti del Picchia (1892-1988). O grupo reuniu-se no ateliê de Tarsila. Mário de Andrade admirava a bela e elegante Tarsila, que, por sua vez, apaixonou-se por Oswald. A guerra das paixões resultou na desagregação do grupo, que encerrou suas atividades no final do ano, quando Tarsila voltou para Paris, Andrade dedicou-se a divulgar o Modernismo e publicou seu primeiro romance Os Condenados (1922). No ano seguinte o escritor viajou para a Europa (1923), quando proferiu conferência na Universidade Sorbonne, com o tema O Esforço Intelectual do Brasil Contemporâneo [L’éffort intellectuel du Brasil Contemporain]. Na volta ao Brasil Oswald divulgou seu movimento nativista, Pau Brasil (1924-); anos depois o escritor estruturou o Movimento Antropofágico, quando lançou a Revista de Antropofagia (1928-1929). Tarsila ligou-se a Oswald, que permaneceu mais ligado ainda ao poder e à política: ele conviveu com personalidades tão distintas como o líder Julio Prestes (1882-1946), Presidente deposto na Revolução de 1930, e o Presidente da República Washinghton Luís (Perreira de Sousa, 1869-1957). No decorrer da década de 1920, Oswald, que sempre teve a pena ferina, atacou vários artistas, músicos, poetas e escritores brasileiros consagrados, como Carlos Gomes (1836-1896) e Castro Alves (1847-1871), baluartes da cultura brasileira. Devido às críticas Oswald desagradou a setores da sociedade paulistana e começou a desagradar até mesmo seus amigos, organizadores da Semana de 22. Posteriormente, Mário de Andrade, que se tornou amigo dileto do casal Oswald e Tarsila, que chamava carinhosamente de Tarsiwald, rompeu com Oswald que menosprezou-o, em campanha cruel através de suas publicações. As críticas feriram o escritor e intelectual Mário, que sofreu muito com as caçoadas públicas de Oswald, que não cultivou aquela que seria certamente uma bela amizade, que teria mais do que possivelmente amenizado as agruras quando ele caiu em desgraça, no final da mesma década (1929). Na nova temporada em Paris, na companhia de Tarsila, Oswald conviveu com os meios diplomáticos, manifestando a Tarsila suas preocupações em ampliar cada vez mais o seu círculo de relações com o poder, documentadas através de cartas publicadas (AMARAL, 1986). Oswald cobrava de Tarsila por escrito as obrigações sociais que a artista procurava cumprir, escrevendo de volta para Oswald o relatório de suas atividades nos sofisticados círculos sociais e culturais parisienses. A artista escreveu para Jean Cocteau (Jean Clément Eugéne Cocteau, 1885-1963), Fernand Léger (1881-1955), Blaise Cendrars (Fréderic Sausser, 1887-1961), Albert Gleizes (1881-1953), Jules Supervielle e a livreira da Shakespeare e Cia., Adrienne Monnier (1892-1955), entre outros. A artista convidou para visitarem seu ateliê em Paris vários destaques das vanguardas européias, como o produtor dos Balés Suecos (Paris, 1920-1924), Rolf de Maré (1888-1961), entre outros: as personalidades foram bem recebidas com caipirinha e canja (AMARAL, 1986). Oswald voltou ao Brasil e viveu com Tarsila a assumida boa vida de milionários (1926-1929). O casal continuou estreitando suas relações sociais com o poder, o que fez com que Tarsila convidasse para almoço inúmeras personalidades do mundo social e político. Tudo desabou e a vida faustosa acabou com a severa crise econômica e a forte recessão, que adveio como consequência da quebra da bolsa de Nova York (maio, 1929). O resultado mais visível foi a queda da exportação do café, o ouro negro que enriqueceu e movimentava a vida social, econômica e cultural da sociedade paulistana. Devido à profunda crise na economia brasileira, Oswald foi obrigado a fechar suas publicações: ele perdeu tudo, até Tarsila. Oswald pagou bem caro por sua verve crítica: o feitiço virou contra o feiticeiro e ele sofreu violenta campanha persecutória, por parte dos inúmeros desafetos que sua pena feriu no seu tempo de magnata da imprensa paulista. A partir do momento de sua derrocada econômica, Oswald conheceu, depois da bonança o reverso da medalha: […] cortiços, vielas, prisões, lençóis rasgados e fome física […] (Época, 2002). A fazenda do casal Oswald e Tarsila foi hipotecada ao Banco do Estado de São Paulo, que, no entanto, permitiu que seus donos nela permanecessem. Tarsila conseguiu pagar ao banco e recobrou, anos mais tarde, a posse da fazenda de sua família (1939). O casamento moderno de Tarsila e Oswald naufragou e o casal separou-se (1929). Disseram as más línguas que foi por causa da beleza brejeira de Pagu, a jornalista Patricia Rehder Galvão (1910-1962), bem mais jovem que Tarsila e que, na época, encantou Oswald. Foram citados os versinhos ferinos de Oswald, que teria escrito o poemeto em um guardanapo do Automóvel Clube, reduto de Paulo Prado (1869-1943) […] Se o lar de Tarsila vacila/ É pelo angu da Pagu[…] A fotografia de Pagu, em primeiro plano, ao lado de Anita Malffatti e Tarsila, no grupo seleto no qual Oswald também se encontra, foi publicada (Época, 2002). Oswald estreitou depois sua ligação com Pagu, e o casal veio a ter um filho, Rudá (1930). Oswald escreveu seu Manifesto Antropofágico (1928), que publicou no primeiro número de sua Revista de Antropogagia, […] Tupi or not Tupi, that’s the question […] genial paródia ao dito célebre de William Shakespeare (To be or not to be, that is the question), na versão nacionalista e antropofágica de Oswald, que sem dúvida permanece como um dos ditos mais certeiros em relação a realidade brasileira. O movimento ímpar da antropofagia nas artes e letras brasileiras inscreveram o país na trilha da modernidade única e singular, muito mais para o anarquismo intuitivo de Oswald do que para as teorias mais elaboradas dos pensadores da época e dos modernistas moderados, participantes da Semana de 22. Oswald produziu ainda o retrato histriônico da sociedade brasileira com sua peça atemporal, moderna, vanguardista e desvairadamente tropicalista: O Rei da Vela (1933). Indelevelmente marcada por ciclos de mais de 30 anos, a peça foi encenada pela primeira vez com os premiadíssimos cenários de Helio Eichbauer (1941-), sob a direção de José Celso Martinez Corrêa (1937-), inaugurando a reforma do teatro do Grupo Oficina (São Paulo, 1967). Essa peça foi re-encenada pela Cia dos Atores, dirigida por Henrique Diaz (Rocha, 1967), apresentando Renato Borghi (1939) no papel de Abelardo I e José Wilker (1944-2014), no de Abelardo II, no teatro do CCBB (Rio de Janeiro, 2000). A peça de Oswald de Andrade é o Brasil em forma de espetáculo. A peça não envelhece, descreve o mesmo triste Brasil corrupto e cheio de vícios, no terceiro milênio. Na segunda montagem (2000), o cenário foi de Gabriel Villela (1958-), figurino de Marcelo Olindo, direção de produção de Marcelo Vale, sendo o elenco formado por César Augusto, Drica Moraes, Gustavo Gasparini, Malu Gatti, Marcelo Olindo, Marcelo Valle, André Schmidt, Guilherme Miranda e Leonardo Miranda. A peça estreou no teatro do CCBB (Rio de Janeiro, fevereiro, 2000). Oswald de Andrade, que publicou o romance Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), e seus dois únicos livros de poesia, Pau-Brasil (1925) e Cadernos de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (Poesias Reunidas, 1927), no mesmo ano em que publicou A Estrela de Absinto, segundo romance da trilogia do exílio, escreveu as peças O Rei e o Cavalo (1934); e A Morta, no mesmo ano que escreveu O Rei da Vela (1937). Oswald iniciou cedo sua carreira no jornalismo, como redator e crítico teatral do jornal Diário Popular (1909-1911); foi colaborador do Jornal do Comércio (1916-1922), quando defendeu a obra da pintora Anita Malfatti (1896-1964), colaborou em A Gazeta (1917-), A Vida Moderna; O Pirralho, A Cigarra e Klaxon (1922), além do Correio Paulistano (1921-1927). Oswald colaborou com várias publicações da imprensa paulista como a Revista do Brasil. Na Folha de São Paulo, Oswald lançou sua coluna Três linhas e Quatro Verdades (1949-1950). Oswald colaborou com a revista Verde, fundada por grupo de modernistas (Cataguases, MG, 1927). Oswald fundou o periódico Papel e Tinta (maio, 1920 - fevereiro, 1921); fundou com Raul Bopp (1898-1984) e Antonio Castilho de Alcântara Machado d´Oliveira (1901-1935), a Revista de Antropofagia (1a dentição, 1928), cuja 2a Dentição foi publicada como suplemento do jornal Correio da Manhã. Na década de 1930, fundou com Patrícia Galvão o jornal O Homem do Povo (março 1930- abril, 1931). Durante a ditadura Getulista esse jornal, que pregava a luta operária, foi fechado pela polícia, quando Pagu foi presa. Oswald lançou movimentos antifascistas, mas foi perseguido politicamente; ele conheceu Luís Carlos Prestes (1898-1990), quando filiou-se ao PC do B (dezembro, 1930), até quando rompeu com Prestes e o partido (1930-1945). Oswald publicou os romances Serafim Ponte Grande (1933); A Escada Vermelha (1934); o primeiro volume de Marco Zero: A Revolução Melancólica (1943), cujo segundo volume Chão saiu dois anos depois (1945). Oswald escreveu os ensaios Análise de Dois Tipos de Ficção (1941); ele, com A Arcádia e a Inconfidência, prestou concurso para a cadeira de Literatura Brasileira (USP, 1945); ele publicou Poesias Reunidas de Oswald de Andrade (1945) e artigos esparsos, reunidos no volume Ponta de Lança (1945); publicou O Escaravelho de Ouro na Revista Acadêmica de Murilo de Almeida (n. 68, ano XII, Rio de Janeiro); e A Crise da Filosofia Messiânica (1950), tese com a qual conquistou o título de livre-docente da U.S.P.. Ao falecer em São Paulo (22 de outubro, 1954), Oswald deixou pronto o primeiro volume de suas memórias, publicadas postumamente sob o título Um Homem sem Profissão sob as Ordens de Mamãe (Obras completas de Oswald de Andrade. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1990). Oswaldo de Andrade e a estudante francesa conhecida como Kamiá, que Oswald trouxe para viver no Brasil depois de sua estadia em Paris (1912) deu a luz ao primeiro filho de Oswald, que ficou conhecido como Nonê (José Oswald Antonio de Souza Andrade Filho, 1914-1972). Um ano depois o romance terminou, como Oswald relatou nas suas memórias e ele começou conturbado romance com a dançarina Helena Carmem Hosbale, conhecida como Landa Kosbach (1915). A vida amorosa continuou tumultuada com o casamento in extremis com a jovem Maria de Lourdes Castro Pontes, que chamou nas suas memórias de Miss Ciclone ou Deisi, que faleceu no mesmo ano (1919). Oswald iniciou o seu mais conhecido romance com a pintora Tarsila do Amaral (1922-), assumindo a vida conjugal em Paris (1923) e com o casamento oficializado (1926-1929). Oswald começou outro romance com a jornalista Patrícia Galvão (Pagu), da qual nasceu seu segundo filho, Rudá Potonominare Galvão de Andrade (1930). Ao final do romance com Pagu, Oswald viveu breve ligação com a pianista Pilar Ferrer, mas acabou assinando pacto pré-nupcial com Juliete Guerrini, conhecida como Julieta Bárbara com quem casou-se (1936 – 1942). Casou-se depois com Maria Antonieta d’Álkimim (1942-), quando nasceu sua filha Antonieta Marília (1945) e seu filho Paulo Marcos de Alkimim de Andrade (1948). Oswald relatou em sua biografia breve romance com a dançarina Isadora Duncan (Angela Dora Duncan, 1877-1927), quando esta passou temporada no Brasil. O documentário de Geraldo Sarno A Semana de 22(1971, P&B, 60'), realizado em vídeo para a Rede Globo de Televisão, lançou luz poderosa sobre o evento realizado 50 anos antes. Sarno desvendou esclarecedoras matérias, pois entrevistou Antonio Cândido, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti. Com texto de Zuenir Ventura, trouxe ainda imagens do antológico filme Macunaíma, baseado na obra literária de Mário de Andrade (1888-1945), com imagens de Grande Othelo (Sebastiâo Prata, 1915-1993), sob a direção de Sarno, que filmou imagens da primeira montagem de O Rei da Vela, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, no teatro Oficina, em São Paulo, com Abelardo I na magistral interpretação de Renato Borghi e Abelardo II com notáveis imagens do jovem José Wilker, com sua voz característica e dicção peculiar, fácilmente reconhecível. No final do filme de Sarno, depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Wally Salomão, todos na crista da onda das vanguardas tropicalistas, nova emergência da brasilidade, 50 anos depois da semana. O documentário iniciou com as imagens gravadas na mostra de arte comemorativa dos 50 anos da “Semana de 22”, no mesmo Theatro Municipal de São Paulo, com as mesmas hoje célebres obras de arte. Com fotografia de João Carlos Horta e som de Jorge Goulart, o filme foi apresentado no festival “É tudo verdade, It's All True 2002”, sábado 28 de abril, no CCBB (Rio de Janeiro, 2002). REFERÊNCIAS SELECIONADAS: ANDRADE, O. de. Cadernos de poesia do aluno Oswald: Poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro sd, pp. 199-200 ANDRADE, O. de. Um Homem sem Profissão: sob as ordens de Mamãe. Obras completas de Oswald de Andrade. São Paulo: Secretaria de Cultura e Editora Globo, 1990, pp i,ii, iii,iv,v. CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 437. SARNO, G. A Semana de 22. Documentário em vídeo, 1971, 60' LEVI, C. Teatro Brasileiro: um panorama no século XX. Rio de Janeiro: Funarte, 1997, p. 100. PROGRAMA. ANDRADE, O. de. O Rei da Vela. Rio de Janeiro: CCBB, 2000.

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