Translate

Friday, March 16, 2012

BIOGRAFIA: MASSINE, Léonid; Leonid Miasjin (1894-1979).


SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 74, 81-86, 95-96, 97-99, 107, 151, 154-157, 167, 183.



PRIMEIRA PARTE: MASSINE, COREÓGRAFO DOS BALÉS RUSSOS (Paris, 1909-1929).

O importante coreógrafo e bailarino russo, nasceu em Moscou e morreu nos E.U.A., naturalizado americano. Depois de dançar no corpo de baile de Teatro Mariinsky (São Petersburgo), onde foi visto por Sergey Diaghilev, Massine, aos 18 anos de idade, foi convidado a integrar o elenco da Cia. Teatral S, P. Diaghilev. Massine não era um prodígio, como Vaslav Nijiski, mas Diaghilev encantou-se com ele e o artista emigrou para a França, onde estreou dançando no papel principal (José) do espetáculo A Lenda de José, que estreou no Teatro Nacional da Ópera (Paris, 1914). Diaghilev que tinha sido abandonado por seu principal coreógrafo, e seu amante, Michel Fokine, pediu a Massine que coreografasse o novo balé, quase pantomima, que lembrava a dança livre de Isadora Duncan.

Diaghilev estava preparando a temporada americana, arranjada pelo Metropolitan Opera House; e antes da companhia partir para os Estados Unidos, realizou-se a única récita do balé O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit], dançado por bailarinos e bailarinas no papel de camponeses russos com música de Nicolay Rimsky-Korsakov, coreografia de Léonid Massine e cenografia e figurinos de Mikhail Larionov. O balé alcançou certo sucesso e realizou-se outra récita beneficiente em matinê, na Ópera de Paris. A companhia partiu de navio (Bordeaux - Boston) e chegou à América (11 de janeiro, 1916); a temporada novaiorquina estreou no Teatro Century (Nova York, 17 jan.).

Diaghilev fôra convidado pelo rei da Espanha, Alfonso XIII, para levar seus Ballets Russes ao país, para onde o empresário retornou da viagem a América. A temporada espanhola estreou com a presença do rei de Espanha e sua família  (Madri, 26 maio, 1916). A companhia descansou alguns dias e depois apresentou-se em San Sebástian (Espanha). Diaghilev preparou dois novos balés: As Meninas, apresentação de cinco bailarinos(as) com a música da conhecida Pavane, de Gabriel Fauré, cenários do artista italiano Carlo Socrate e costumes de Misia Sert. A coreografia foi de Massine, que também dançou com Lidia Sokolova, Olga Khoklova e Léon Woizikowsky. O segundo balé Kikimora, baseado na música de A. K. Lyadov; Stanislas Idzikowsky dançou no papel do Gato. Nenhuma dessas coreografias de Massine mostrou-se excepcional: ele ainda tinha longo caminho à percorrer, antes de tornar-se respeitado coreógrafo internacional.

O primeiro novo balé europeu coreografado por Massine foi Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], obra com libreto de Goldoni, música de Domenico Scarlatti orquestrada por Vicenzo Tommasini, que estreou no Teatro Costanzi (Roma, 1917). Massine coreografou no seu estilo característico com movimentos precisos, mecânicos, que tornavam os bailarinos verdadeiros bonecos animados. Os belos figurinos ajudavam a compor o conjunto e os cenários, ambos desenhados por este verdadeiro mestre, Léon Bakst, inspirado nos velhos manuais venezianos de pintura do século XVIII. O espetáculo estreou em Roma (12 abril, 1917). A inspiração da coreografia veio diretamente da Comedia del' Arte italiana, que Massine desenvolveu e o balé foi dançado pelas graciosas bailarinas Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova e Lydia Lopokova; os bailarinos foram Massine, Enrico Checchetti, Léon Woizikovsky e Stanislas Idzikowsky. Foi retumbante sucesso e várias fotografias dos bailarinos vestindo os ricos costumes de época, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).

O segundo espetáculo foi Contos Russos [Contes Russes] , com a adaptação da música de Lyadov para Kikimora, apresentado anteriormente, mas agora transformado em balé completo com cenários e figurinos de Mikhail Larionov. Depois de temporada desastrosa no Teatro San Carlo (Nápoles), o balé partiu para Paris. O balé Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], abriu com grande sucesso a curta temporada parisiense, de semana única no Théâtre du Chatelet (11 maio, 1917).

O terceiro balé foi Parada [Parade] (1917), com libreto de Jean Cocteau, música de Erik Satie, cenografia e figurinos de Pablo Picasso, que desenhou a cortina de cena e vários costumes para os sete bailarinos que apareceram na Parada, sendo que dois, o Manager americano e o Manager francês que anunciavam a Parada, vestiram os costumes rígidos de inspiração Cubista, extremamente altos (c. 3,00 m) e bem pouco adequados aos movimentos dos bailarinos. As obras cenográficas e as fotografias dos figurinos de P. Picasso encontram-se reproduzidas (CACHIN, 1977). Massine apresentou-se como o Prestidigitador Chinês, vestiu a túnica colorida, usada com calças justas pretas e sua fotografia neste balé vanguardista encontra-se reproduzida (SHEAD, 1987). O balé estreou no Teatro do Chatelêt (Paris, 18 maio, 1917). O público levou verdadeiro choque e manifestou violenta rejeição por ocasião da estréia do espetáculo; quem salvou a Parada dos vanguardistas foi Guillaume Apollinaire (1880-1918), herói da França, que subiu ao palco pedindo que os espectadores mantivessem a calma. Os parisienses conheciam e cultivavam Apollinaire, depois que o poeta, escritor e crítico de arte editou a sua revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); foi dele a apresentação do balé no programa, quando escreveu o artigo Parada e o Novo Espírito [Parade et l'Esprit Nouveau].

Diaghilev começou a preparar outro balé para a temporada espanhola: A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque], com música de Rossini adaptada por Ottorino Respighi (v. biografia nas postagens antigas), aluno do russo N. Rimsky-Korsakov e para o qual Massine idealizou a ambientação em loja de brinquedos do século XVIII. Diaghilev escolheu André Derain para criar a cenografia e os figurinos. Dançaram Enrico Cecchetti, Sergey Grigoriev, Lydia Sokolova, Léon Woizikovsky, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Stanislas Idzikovsky, Nicolas Zverev e Vera Clark. Na temporada parisiense formaram o par principal Lydia Lopokova e Léonid Massine, mas, na temporada londrina, Massine dançou com Tamara Kasarvina. O balé alcançou grande sucesso, seu maior sucesso desde a temporada que parecia bem distante no tempo (1914).

Balé ainda melhor estreou em Madrid (abril, 1917): O Tricórnio ou O Chapéu de Três Pontas, com música do espanhol Manuel de Falla y Matheu, baseado no relato antigo de Pedro Antonio de Alarcón (1815), adaptado como libreto por Martinez Sierra com o nome original de O Corregedor e a Moleira [El Corregidor y la molinera]. Esse balé nada revolucionário estreou com alegres figurinos de Picasso e a colorida cenografia, introduzindo a perspectiva bastante presente. Na primeira récita do balé os papéis principais ficaram com Léonid Massine, Tamara Kasarvina e Léon Wotzikowsky, sendo que Stanislas Idzikowsky interpretou o pequeno papel do Dandy. A fotografia dos bailarinos e a de Massine nesse balé, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989). O balé obteve sucesso imediato; foi apresentado em duas temporadas londrinas, sendo que a primeira estreou em 22 de julho e a segunda, realizada no Empire Theatre, estreou em 29 de setembro (1919).

Quando Massine tornou-se bailarino e coreógrafo bastante conhecido, o artista apaixonou-se pela jovem e inocente bailarina Vera Antonova. Massine não previu a reação de Sergey Diaghilev, que sentiu o afastamento dele, seu amante, e colocou detetives para confirmarem a história da traição. O resultado foi que Massine, que tinha aproximadamente 25 anos de idade, foi despedido por Diaghilev. Massine foi trabalhar como coreógrafo para os espetáculos As Noites de Paris [Les Soirées de Paris], organizados pelo Conde Étiènne de Beaumont, homem da sociedade parisiense que financiou quatro temporadas de balé (1924; 1925). Na época, nenhuma companhia parisiense mantinha atividades regulares, nem possuía a mesma competência, criatividade e originalidade dos Ballets Russes, a grande família que projetou Massine internacionalmente. Pouco tempo depois, passando por dificuldades financeiras, Massine pediu a Diaghilev para voltar como coreógrafo na próxima temporada da companhia. Diaghilev acedeu e Massine ficou encarregado de ensaiar a nova versão coreográfica do balé Os Maledicentes [Les Fâcheux] (1927). Nessa temporada, Massine voltou à produzir o grande sucesso, o balé Passo de Aço [Pas d'Acier] (1927), com música de Sergey Prokofiev, cenários e figurinos arrojadíssimos do artista Construtivista russo, Georgy Yaculov. A companhia partiu em turnê, levando sua arte para várias cidades na Alemanha, Viena (Áustria), Genebra (Suíça) e ainda encenou duas Noites de Gala (Paris, 1927). Uma fotografia do cenário de G. Yaculov e quatro fotografias (posadas), dos bailarinos, inclusive Massine, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).

SEGUNDA PARTE: MASSINE, COREÓGRAFO INTERNACIONAL.

A partir da década de 1930 Massine tornou-se um dos principais coreógrafos europeus, renomado, graças a seu excepcional talento e ao aprendizado intensivo realizado com os Ballets Russes de Sergey Diaghilev. Dois anos depois do encerramento dos Balés Russos Massine encontrava-se na Itália, Fokine em Paris, Balanchine em Copenhagen e Bronislava Nijinska em Florença (1931).

Diaghilev deixou seu último contrato para ser cumprido com Raoul Gunsburg, então diretor da Ópera de Monte Carlo. Gunsburg e seu Maître de Ballet, René Blum, esperavam herdar os Ballets Russes de Diaghilev. Na época, foi elaborado o programa de companhias visitantes, entre essas estava incluída a Cia. dos Ballets du Théâtre du Champs Elysées (1931), formada e dirigida por antigo oficial cossaco russo, o Colonel de Basil. A companhia contratou Georges Balanchine como Maître de Ballet, Bóris Kochno como diretor de arte e Sergey Grigoriev como diretor geral. Foram contratados os principais bailarinos remanescentes dos Balés Russos. Foram encenados alguns balés coreografados por Balanchine, até que foi reencenado o balé do repertório dos Balés Russos, Jogos Infantís [Jeux d'Enfants], conhecido como Jogos [Jeux], com música da Suite de Georges Bizet, coreografado por Léonid Massine, com cenários de Joan Miró. Neste momento o contrato de Balanchine com a Companhia dos Ballets du Théâtre du Champs Elysées terminou, e não foi renovado (1933).

 
No momento em que os balés russos se dispersaram, Massine adquiriu vários figurinos da companhia e também conservou muitas das anotações referentes a outros espetáculos do repertório dos Balés Russos. Na ocasião, Massine tornou-se figura mais interessante para ser contratado pela Cia. dos Ballets du Théâtre du Champs Elysées, do que George Balanchine, que não era bailarino, sómente coreógrafo. Massine assumiu o lugar de Balanchine e voltou, com carga total, à principal atividade de coreógrafo. Massine continuou assim sua carreira internacional de coreógrafo, que levou-o a muitos teatros através do mundo, inclusive no Brasil.

Tatiana Leskova, que se tornou a principal diretora do balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, convidou Massine para coreografar o Hino à Beleza, balé com música do maestro Francisco Mignone. Massine remontou A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque], com música de Rossini adaptada por Ottorino Respighi, para o qual ele idealizara anteriormente ambientação em uma loja de brinquedos do século XVIII. Esse balé estreou com a cenografia de André Derain: e o balé O Tricórnio, ambos os balés seus sucessos anteriores no repertório dos Ballets Russes. Foi também encenado o balé Alegria Parisiense [Gaieté Parisiense]. Esses balés marcaram a carreira de Tatiana Leskova, que convidou bailarinos como Lupe Serrano, Michael Land, Maria Talchieff e André Eglevsky para dançarem nos palcos cariocas. Leskova sugeriu a Massine remontar Os Presságios [Les Pressages], e, quando Massine alegou não lembrar-se da coreografia do balé, ele sugeriu que Leskova, que havia dançado este balé com a Cia. do Original Ballet Russo, remontasse sozinha a obra. Tatiana pediu ajuda a Nina Verchinina, que ensinou-lhe a coreografia original; e a sua antiga colega Lorna Kay, que anteriormente dançou no espetáculo, juntamente com o corpo de baile. O grupo conseguiu ainda filme amador, mandado da Europa por um amigo de Leskova, que, para o mais completo espanto de Massine remontou o balé, respeitando integralmente a versão original. Ficou assim estabelecida a relação do grande coreógrafo com a arte da dança no Brasil.

A capacidade demonstrada por Leskova na remontagem da antiga coreografia de Massine, levou o coreógrafo a considerar a bailarina como uma das remontadoras oficiais de seus balés. Leskova posteriormente remontou várias das antigas coreografias de Massine: para os Balés da Ópera de Paris, Balé Nacional da Holanda, o Balé Real [Royal Ballet] (Londres), o Balé de Birmingham, o Balé Joffrey e o Balé da Ópera de Nice. Massine convidou Leskova para ajudá-lo na Temporada Anual do Balé de Nervi (Itália, 1959), quando Leskova trabalhou na remontagem de Choreartium para a nova companhia, que estreou em julho do ano seguinte (1960).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 523.135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm, pp. 85, 127.

CATALOGUE RAISONNÉ, CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977.

PEREIRA, R. Tatiana Leskova: nacionalidade bailarina. Série Memória do Teatro Municipal. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, FUNARTE, Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 2001, pp. 49, 52

No comments:

Post a Comment