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Sunday, February 5, 2012

STRAVINSKY, Igor Fedorovich (1882-1971).

Período russo e parisiense, 1882-1911; 1914; 1916.
Londres, 1913: 1921; 1924.


O músico russo nasceu em Lomonosov, cidade próxima de São Petersburgo (17 jun., 1882); Stravinski faleceu em Nova York, naturalizado norte-americano (1971). O pai de Stravinski foi renomado músico russo: aos dez anos de idade ele foi admitido no Conservatório de São Petersburgo, onde foi aluno de Nicolai Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908), que pertenceu ao dito, Grupo dos Cinco (v.). Stranvinski se revelou prodígio, e se projetou cedo, internacionalmente: aos 27 anos de idade ele compôs sua primeira música para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergei Diaghilev (1872-1929). À pedido do empresário russo, Stravinski adaptou com arranjo orquestral de sua autoria, a Valsa em C Menor, de Fréderic Chopin, que acompanhava o balé As Sílfides [Les Sylphides] (Paris, 1909).

Diaghilev gostou da obra do músico e, em seguida, Stravinski compôs a suite (21’), do balé O Pássaro de Fogo [L'Oiseau de Feu] (1911), com orquestração completa que os Balés Russos apresentaram repetidas vezes (1911; 1914; 1916). Esse balé estreou com Vaslav Nijinsky (1889-1950), como par de Tamara Kasarvina; outro par foi formado pelo bailarino e primeiro coreógrafo deste balé, Michel Fokine (1881-1942), que dançou com sua futura esposa, Vera Baldina. O primeiro cenário foi criado pelo russo Alexandre Golovine (1863-1930), mas não agradou a S. Diaghilev, que pediu que Natália Gontcharova (1881-1962), que o redesenhasse para as outras apresentações (1914-). Com Gontcharova o cenário do balé se tornou verdadeiro festival de cores russas, com desenhos cenográficos baseados nos antigos bordados folclóricos das roupas das camponesas. Esse balé multicolorido encantou Paris: a música de Stravinski foi determinante para tornar o balé bem sucedido, e alavancar a carreira do músico russo, pois, na época de sua estréia, a crítica foi-lhe inteiramente favorável. Durante o período de cinco anos (1914-1918), este balé se tornou o espetáculo de maior sucesso dos Ballets Russes.

A música de Stravinski para O Pássaro de Fogo foi apresentada no Concerto Promenade, com a orquestra do Queen's Hall sob a regência de Sir Henry Wood (Londres, 1913). Stravinski revisou depois sua versão (1919), que resultou no prolongamento da música (26'). A nova versão foi apresentada no concerto com a orquestra do Queen's Hall conduzida pelo maestro Edward Clark (08 abr., 1921); a música foi reapresentada com a Augmented Wireless Orquestra, conduzida pelo maestro Percy Pitt (Londres, 23 mar., 1924).

O terceiro balé com música de Stravinsky foi Pétrouchka [Petrushka, 43'], dito, balé burlesco com quatro cenas (ago., 1910; maio, 1911). O compositor revisou e produziu nova versão quando ele compôs os Três movimentos de Pétrouchka [Trois mouvements de Pétrouchka], dedicados ao pianista Artur Rubinstein e transcritos pelo compositor para piano solo (1921). O balé estreou com os Ballets Russes na temporada parisiense (13-26 maio, 1911); Stravinski dedicou esse balé a seu amigo, o artista plástico e cenógrafo russo Alexandre Benois (1870-1960). Na mesma temporada o balé foi reapresentado no Teatro do Châtelet, sendo a oquestra regida por Pierre Monteux (Paris, 1911). Este encantador balé trágico mostrou o drama de marionetes na pantomima que alcançou grande sucesso nas suas várias récitas. Se bem que Diaghilev pedisse desenhos cenográficos a Jacques-Émile Blanche, quem realizou os cenários e figurinos da estréia foi Alexandre Benois (1870-1960), sendo coreógrafo Michel Fokine (1881-1942). Na noite de estréia, o bailarino principal foi Vaslav Nijinsky (1889-1950). No principal papel feminino (a Bailarina), Tamara Kasarvina dançou tal qual boneca mecânica. A fotografia da encantadora Kasarvina vestida como marionete, se encontra reproduzida (SHEAD, 1989: 48). Nas primeiras apresentações o bailarino russo Alexandre Orlov fez o papel do Mouro, que matou o apaixonado Pétrouchka (Nijinsky); e Enrico Cecchetti, professor de balé de toda uma geração de grandes bailarinos europeus, inclusive do coreógrafo e bailarino húngaro Aurélio Milloss (1906-1988), que terá futuramente significativa projeção no Brasil. Cecchetti se apresentou nos palcos parisienses aos sessenta anos de idade no papel do Mágico. Na segunda apresentação do balé, fotografia de época mostrou Nijinski vestido com os costumes de Pétrouchka (Benois), posando ao lado de Stravinski: a fotografia se encontra reproduzida (SHEAD, 1989: 45).

Balé Petrouchka: estréia em Paris, excursão nos Estados Unidos, Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu, Buenos Aires, 1916; Budapeste, Viena, Berlim, Dresden, Roma, Milão, Buenos Aires, 1933-; com os Ballets do IV Centenário da Cidade de São Paulo, no TMRJ - Theatro Municipal (Rio de Janeiro, 07-13 dez., 1954).

O balé Pétrouchka viajou com a companhia dos Ballets Russes: foi apresentado com Nijinski e seus principais bailarinos durante a turnê na América do Norte e Sul do grupo russo (1916). O húngaro Aurélio Milloss realizou nova versão coreográfica para Pétrouchka, que estreou várias décadas depois, no Teatro da Ópera Real (Budapeste, 1933). Milloss apresentou este balé nos Teatros das Óperas de Viena, Berlim e Dresden; na Ópera Real (Roma), no Teatro Scala (Milão) e no Teatro Colón (Buenos Aires). Milloss reencenou Pétrouchka, Cenas burlescas em quadros, com música de Igor Stravinsky, na nova versão coreográfica dele, com cenários e figurinos de Roberto Burle Marx. A estréia com os Ballets do IV Centenário da Cidade de São Paulo, foi na dita, Semana da Marinha, no TMRJ - Theatro Municipal (Rio de Janeiro, 07-13 dez., 1954). Os desenhos de quatro dos trajes criados para o balé por Roberto Burle Marx (1953, guache e lápis sobre o papel, originais no acervo do Sítio Burle Marx - IPHAN-MINC, Rio de Janeiro), se encontram reproduzidos no catálogo Fantasia Brasileira.

A Sagração da Primavera [Le Sacre du Primptemps]: estréia em Paris - Londres, 1913; Nova York, 1945.

Stravinski compôs a música para o balé A Sagração da Primavera [Le Sacre du Primptemps] (dur. 34 min.), apresentado inicialmente como Cenas da Rússia pagã em duas partes (1911-1913), dedicado a seu amigo e colaborador, o cenógrafo e figurinista dessa obra, Nicolai Konstantinovich Roerich (1874-1947). O balé estreou com sucesso de escândalo, sendo sua primeira récita realizada nos palcos parisienses (29 maio, 1913). Esse balé consagrou definitivamente Nijinski, Stravinski e os Balés Russos de S. Diaghilev. Na récita de estréia, com a orquestra sob a regência do maestro Pierre Monteux, dançaram com a coreografia de V. Nijinski, Marie Piltz (a vítima escolhida) e Varontsov (o Velho Sábio), no Teatro dos Campos Elíseos. Na mesma temporada o balé foi reapresentado com o mesmo regente e bailarinos no Teatro Drury Lane (Londres, 11 jul., 1913). O compositor escreveu a versão para piano a quatro mãos (1921, Éd. Russe de Musique) e revisou a Dança Sacra [Danse Sacrale], (1943), na versão publicada pelos Editores Musicais Associados [Associated Music Publishers] (Nova York, 1945).


Ópera Khovanschina, Rússia; Paris - Londres, 1913-1914.


Stravinski compôs (mar. – abr., 1913), conjuntamente com Maurice Ravel (1875-1937), à pedido de Sergei Diaghilev (1872-1929), a nova versão da Ópera Khovanschina, do compositor russo Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881; v. o Grupo dos Cinco músicos russos). A nova versão estreou com o baixo Fiodor Chaliapin (1873-1938), no Théâtre des Champs Elysées (Paris, 05 jun., 1913). Na mesma temporada, a nova versão da música foi apresentada no Teatro Drury Lane (Londres, 1º de jul., 1913). O Coro Final [Final Chorus], com arranjo orquestral de Stravinski, somente foi publicado no ano seguinte (Bessel, 1914).


O Rouxinol, Conto Lírico em três atos [Le Rossignol]; Paris-Londres, 1914. Balé O canto do rouxinol: poema sinfônico em três partes [Le Chant du Rossignol] (Novos cenários e figurinos, reencenado pelos Ballets Russes, Paris, 1916; Morges, França, 4 abr., 1917; Genebra, 1919, Londres, 1920. Londres, 1930; 1935).

Stravinski compôs a música dedicada a Serge Mitusov, O Rouxinol, Conto Lírico em três atos [Le Rossignol], para o balé encenado pelos Ballets Russes. O tema foi baseado no conto homônimo de Hans Christian Andersen e o balé estreou com a orquestra conduzida pelo maestro Pierre Monteux no Teatro da Ópera (Paris, 26 maio, 1914). A última récita da primeira temporada em que esse balé foi apresentado, ocorreu em Londres (24 jul., 1914): uma semana depois a Inglaterra se envolveu no conflito da I Guerra Mundial.


O artista Futurista italiano Giacomo Balla também colocou seu talento a serviço de outras encenações da Cia Teatral S. P. Diaghilev, como para O Canto do Rouxinol [Il canto dell'usignolo], com música de Stravinsky, cenários de Fortunato Depero e desenho costumes de Balla. No entanto o balé foi encenado pelos Ballets Russes com criações de figurinos de Léon Bakst e cenários do artista espanhol Pedro Pruna (Paris, 1916). Os desenhos de figurinos de Balla para esse balé, se encontram reproduzidos (ATTI, 1990).

Durante os próximos quatro anos, a companhia dos Ballets Russes, viveu era de incertezas, passando por muitas dificuldades financeiras, devido a eclosão da I Guerra Mundial. Anos mais tarde esse balé, renomeado de O Rouxinol, com música de Stravinski, foi reapresentado com a nova coreografia de George Balanchine, novos cenários de Pedro Pruna, baseados na influência da pintura de Pablo Picasso sobre a obra do jovem cenógrafo. O balé reestreou dançado pela jovem bailarina de apenas quatorze anos de idade, a inglesa que ficou conhecida como Alice Markova, aluna de Enrico Cecchetti (Londres, 1925). Posteriormente Stravinski transformou a música no balé O canto do rouxinol: Poema sinfônico em três partes [Le Chant du Rossignol] (20 min.), apresentado em Morges (França, 4 abr., 1917). A mesma música foi reapresentada com a Orquestra da Suíça Romande, conduzida por Ernest Ansermet (Genebra, Suíça, 6 dez., 1919). No ano seguinte Le Chant du Rossignol foi reapresentado na Royal Opera House, Teatro do Covent Garden (Londres, jul.,1920), com o maestro Ernest Ansermet conduzindo a Orquestra da Rádio BBC. A música foi reapresentada no Queen's Hall (Londres, 31 jan.,1930). O balé  O Rouxinol, estreou com os Ballets Russes (Paris, 1914; 1919) e foi apresentado em Londres (1914; 1925). Os cenários e figurinos da noite de estréia foram de autoria do russo Alexandre Benois (1870-1964). O artista Futurista italiano Giacomo Balla também apresentou a Diaghilev desenhos de figurinos para essa produção, que não foram aceitos. Os cenários seriam de Fortunato Depero.


Fogos de Artifício, Fantasia para grande orquestra (Paris, 1908; São Petersburgo, 1909; Londres, 1914; Roma, 1917; Manchester, 1926). Stravinsky e os Futuristas italianos (Paris, 1914; Roma, 1921).

Stravinski se interessou pelos ditos, Concertos Ruidistas de Luigi Russolo, que ele assistiu no Teatro Coliseum (Londres, 1914). Em carta endereçada a Diaghilev, Stravinsky relatou que se encontrou com F. T. Marinetti (1876-1944), e com os músicos Futuristas Luigi Russolo e Francesco Balila Pratella (Milão, mar., 1915). No entanto, devido à entrada da Itália na I Guerra Mundial do lado oposto à França onde Stravinski vivia na ocasião, enviabilizou qualquer possível colaboração desejada pelos músicos das vanguardas italianas. No Théâtre des Champs Elysées, Stravinsky compareceu à série de concertos de Luigi Russolo, e seu instrumento experimental patenteado (jun., 1921), o Entoarumor [Intonarumori], também chamado de Rumorharmônio. Foi Russolo quem escreveu o Manifesto: A Arte do Ruído, publicado em Milão (11 ago., 1913).

A música Fogos de Artifício [Feu d'Artifice (Opus 4, 4´), foi dedicada por Stravinski a Nádia e Maximillian Steinberg (maio – jun., 1908). Durante o período da Primeira Guerra Mundial e devido a indicação de F. T. Marinetti (1876-1944), Giacomo Balla (1871-1958),foi convidado por Sergei Diaghilev para se tornar cenógrafo e figurinista do balé mecânico Fogos de Artifício [L’Ucello di Fuoco]. A encencação foi apresentada com a música homônima de Igor Stravinsky (dur. 4´), no Teatro Costanzi (Roma, 17 abr., 1917). Para os desenhos do dito, Primeiro Cenário Plástico do Futurista Balla [Primo Scenario Plastico dal Futurista Balla], conforme se encontra escrito no cartaz do espetáculo, reproduzido (ATTI, 1990), Balla estudou os efeitos das vibrações luminosas azuis, violetas, vermelho verde - as cores próprias de seu edifício de madeira e tecido - assimétricos e rítmicos, como as notas da música de Stravinsky. Esta composição Abstrata com a qual ele deveria se apresentar durante menos de cinco minutos, criou sobre a estrutura cenográfica movimento de luz e sombra variado - formas fugazes, sobre a forma estática - que deveria suscitar no espectador a mesma reação estupefaciente e maravilhada da explosão animada de fogos de artifício. Um jogo de grande efeito do qual, pela primeira vez, a cenografia foi o espetáculo, onde a centralização da idéia teatral esteve concentrada em um só pensamento: na breve explosão luminosa de efeito agudo e estridente, que sublinhava e traduzia sons musicais. A eufórica aparição da força primordial do fogo - através da formalização teatral e da transfiguração do real ao abstrato. Na ocasião, a obra estreou sem bailarinos, com a música ilustrada somente com efeitos de iluminação além de outros, produzidos por várias máquinas mecânicas, tudo criação fantástica de G. Balla. Os desenhos e estudos de Balla para a cenografia dessa obra (1915-1917), se encontram no acervo da Galeria de L'Obelisco (Roma).

A música de Stravinsky estreou nos Concertos Siloti, com a orquestra regida pelo maestro Alexandre Siloti (São Petersburgo, 6 fev., 1909). A música foi reapresentada no Concerto das Tardes de Sábado [Saturday Afternoon Concert], com a orquestra do Queen's Hall sob a regência de Sir John Wood (Londres, 14 fev., 1914); foi novamente reapresentada com a Orquestra Halle, sob a regência de Sir Hamilton Harty no Free Trade Hall (Manchester, UK, 6 fev., 1926).


Scherzo Fantástico [Scherzo Fantastique] para grande orquestra: balé As abelhas [Les Abeilles](Paris, 1917).

Durante o período da Guerra Mundial, Stravinski viveu na Suíça; nessa época o músico russo reviu sua composição Scherzo Fantástico para grande orquestra [Scherzo Fantastique], dedicada ao maestro A. Siloti, anteriormente apresentada na récita inaugural com a orquestra conduzida pelo homenageado (São Petersburgo, 6 fev., 1909). Stravinsky adaptou a música para o balé As Abelhas [Les Abeilles], apresentado com a coreografia de Léo Stats, no Teatro da Ópera (Paris, 10 jan., 1917), conforme se encontra publicado no jornal Le Mercure de France (Paris, 1º mar., 1917).


Balé As Núpcias: Cenas coreográficas russas com canto e música (Paris, 1917; 1923; Londres, 1926; 1936; Royal Ballet Revival, Londres 50 anos depois, 1966). 

Stravinski compôs a música para o balé As Núpcias: Cenas coreográficas russas com canto e música, que apresentou coro em quatro partes com solistas soprano, mezzo-soprano, tenor e baixo, além de orquestra. O balé Les Noces, estreou com os Ballets Russes (Paris, 1917), e foi apresentado no Théâtre de La Gaieté Lyrique (Paris, 13 jun., 1923) O balé foi reapresentado em Londres, (1926; e no Royal Ballet Revival, Londres 50 anos depois, 1966). Na estréia, a orquestra foi conduzida pelo maestro Ernest Ansermet e apresentou os músicos George Auric, Édouard Léon, Hélène Léon e Marcelle Meyer ao piano, com cenografia da artista plástica russa Natalia Gontcharova (1881-1962); os figurinos foram criados com a colaboração de Vaslav Nijinsky (1889-1950) e a coreografia foi de sua irmã, a bailarina e coreógrafa Bronislava Nijinska (1891-1972). Na sua versão final para orquestra completa, a música que Stravinski compôs foi dedicada a Sergei Diaghilev, quando dois intrumentistas tocaram o instrumento indiano de cordas, Cimbalon. Stavinsky completou a música com o uso de coro e solistas vocais, quatro pianos e muita percurssão (1923). O balé foi reapresentado com a orquestra sendo conduzida pelo maestro Eugene Goossens, no Teatro Her Majesty (Londres, 1926). Nessa ocasião os quatro pianistas foram Georges Auric, Francis Poulenc, Vittorio Rietti e Vladimir Dukelsky. Este balé foi reapresentado durante o Festival Stravinsky (Nova York, 1971).


Mavra: Ópera bufa em um ato (Paris, 1922).

Stravinski compôs Mavra: Ópera bufa em um ato, para soprano, mezzo-soprano, contralto, tenor e orquestra. O libreto foi de autoria de Bóris Kochno baseado na obra de Alexandre Puskhin. A ópera foi encenada com cenários e figurinos de Léopold Survage (v. biografia). O músico datou sua composição (9 mar., 1922); poucas semanas depois Stravinski escreveu a Abertura [Overture]. O compositor dedicou a música (25 min.) In memoriam de grandes artistas russos, Puskhin, Glinka e Tchaikowsky. Diaghilev apresentou essa dita, Ópera em miniatura, no Teatro dos Campos Elísios, dentro da programação da nova temporada, que incluiu a apresentação de trechos da ópera Princípe Igor (Borodin); o ato final do balé A Bela Adormecida (Tchaikowsky - Rachmaninov), bem como a estréia do novo balé, A Raposa [Le Renard], com cenários e figurinos Construtivistas de Mikhail. Larionov e música dele, Stravinski (1922).


Balé Polichinelo [Pulcinella](Paris, 1920). Pulcinella: Suíte para pequena orquestra (c. 1922; 1947).


Stravinski adaptou a música de Giambatista Pergolesi, para Pulcinella [Polichinelo](35'), balé com canções na encenação no estilo da Commedia del'Arte italiana. A obra estreou com os Ballets Russes (Paris, 15 maio, 1920). A orquestra foi conduzida pelo maestro Ernest Ansermet, com cenários e figurinos criados por Pablo Picasso (1881-1973), sendo que Léonid Massine (1894-1979) dançou no papel principal de Pulcinella. Dançaram com a coreografia de Massine, Tamara Kasarvina como Pimpinella; os cantores foram Zoia Rosowska, Aurélio Anglada e Gino de Vecchi. Stravinski compôs depois Pulcinella: Suíte para pequena orquestra (22 min.; c. 1922), que ele revisou posteriormente (1947).


A Bela Adormecida: Variação de Aurora e Entreato Sinfônico (Londres, 1921).

Stravinski compôs A Bela Adormecida: Variação de Aurora e Entreato Sinfônico [The Sleeping Beauty: Variation d'Aurore and Entr'acte symphonique], destinado a reapresentação do balé homônimo, baseado na música de P. I. Tchaikowsky: esse arranjo orquestral de Stravinsky nunca foi publicado. O balé fracassou nas apresentações, apesar do luxo dos cenários e figurinos de Léon Bakst (1866-1924). Logo depois da guerra Diaghilev desejava recuperar-se das perdas financeiras do período e escolheu apresentar-se no enorme Teatro Alhambra, com três mil lugares. Os londrinos ocupavam-se de reconstruir a cidade, suas casas e vidas, e não compareceram as 105 récitas do espetáculo (Londres, 2 nov., 1921-). O balé A Bela Adormecida: Variação de Aurora e Entreato Sinfônico, nunca mais foi reapresentado completo pela Companhia Teatral S. P. Diaghilev, dos Balés Russos.


A Raposa: Burlesco com canção e dança (Paris, 1922; 1929). Música orquestral (Londres, 1935; Genebra, 1955).

Outro balé considerado como obra-prima dos Ballets Russes foi A Raposa: Burlesco com canção e dança, que estreou com a coreografia de Bronislava Nijinska, com cenários e figurinos do vanguardista russo Mikhail Larionov, que, anos depois, criou novos cenários Construtivistas para a reapresentação da nova versão musical de Stravinski para Le Renard (1929). A primeira apresentacão foi no Teatro da Ópera (Paris, 18 maio, 1922), com a orquestra sob a regência do maestro Ernest Ansermet; o mesmo que regeu o Invitational Concert na Brodcasting House (Londres, 12 abr., 1935); e a reapresentação de A Raposa, com a Orquestra da Suíça Romande conduzida por ele, Ansermet (Genebra, 17 out., 1955).


Ópera Oratório-Oediphus Rex, Paris, 1927. Londres, 1928; 1936. São Paulo, 2003.

Stravinski compôs a dita, Ópera Oratório-Oediphus Rex [Édipo Rei] em dois atos (1927), baseada na peça teatral de Sófocles, com a qual o músico presenteou os Ballets Russes, na comemoração do 20º aniversário da Cia Teatral S. P. Diaghlilevem Paris. A obra musical pareceu indigesta a Diaghilev, que, no entanto, encaixou-a na única apresentação entre duas apresentações dos dois novos balés da temporada. Essa Ópera-Oratório de Stravinski estreou no final de maio. Na ocasião, não agradou ao empresário e nem ao público, tanto que Stravinski preparou depois nova versão (1948). Esta obra bastante complexa, extremamente erudita, não foi bem compreendida à princípio, pois Stravinski nela demonstrou o quanto estava avançado em relação à sua época. O músico incorporou-lhe narrador, sendo que o texto, com palavras vertidas para o latim por J. Daniélou, foi de autoria de Jean Cocteau (1885-1963), a quem coube o papel de narrador na récita de estréia. Esta ópera impôs com lentidão seu valor, e, anos mais tarde, foi considerada verdadeira a obra-prima musical do século XX. O próprio Stravinski conduziu a orquestra na noite de estréia no Teatro Sarah Bernhardt (Paris, 30 maio, 1927). No ano seguinte, a ópera foi reapresentada com o Wireless Chorus and Symphony Orchestra, sob a regência do próprio Stravinski, sendo narrador R. E. Jeffrey; com Astra Desmond, Walter Widdop, Roy Henderson, Frank Phillips, Hardy Williamson no Teatro da Rádio BBC (Londres). Outro concerto ocorreu no Queen's Hall, com a Orquestra Sinfônica da Rádio BBC conduzida pelo maestro Ernest Ansermet, quando Philip Cunnigham foi o narrador (Londres, 12 fev., 1936). A música da edição Boosey & Hawkes (dur. aprox. 53 min.), foi levada ao público paulista pela OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, apresentada sob a direção artística de John Neschling com a orquestra sob a regência do maestro Roberto Minczuk. Na apresentação paulista o narrador foi Walmor Chagas; como Jocasta, apresentou-se a mezzo-soprano Renata Spingler; como Édipo o tenor Michel König; como Pastor, o tenor Marcos Thadeu; como Creonte o baixo-barítono Ralf Lukas; como Mensageiro, outro baixo-barítono Rodolfo Giuliani; como Tirésias, o baixo Friedemann Röhlig; completou a obra o coro masculino da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo sob a regência de Naomi Munakata. As récitas paulistas da Ópera-Oratório de Stravinski ocorreram na Sala São Paulo (03 e 05 abr., 2003).


Apolo, Líder das Musas [Apolon Musagète], Estados Unidos, 1928. Ballets Russes, Paris, 1928.
Stravinski compôs a música para Apolo, líder das musas [Apolon Musagète], obra mais tarde conhecida simplesmente como Apolo [Apollon]. Balé em duas cenas para orquestra de cordas (30 min.), encomendado pela Sra. Elizabeth Sprague, patronesse norte-Americana, residente em Washinghton D.C. O balé estreou nos Estados Unidos (27 abr., 1928), mas Stravinski reservou os direitos europeus de sua obra para os Ballets Russes de Sergei Diaghilev, que encenaram a obra no mesmo ano, no Teatro Sarah Bernhardt (Paris, 28 jun., 1928). Na ocasião, a orquestra foi conduzida pelo próprio Stravinski; esse balé marcou o início da importante colaboração, marcante no balé do século XX, entre ele e o coreógrafo russo George Balanchine (1904-1983). 

A música de Stravinski para Apolo, apresentou ecos de J. S. Bach e de P. I. Tchaikowsky, foi composta para orquestra de cordas; a coreografia inovadora de G. Balanchine e os trajes de Mlle. Chanel, marcaram a volta do balé ao estilo clássico. Nessa ocasião Serge Lifar dançou no papel principal (Apolo), quando foi acompanhado por três bailarinas: Alice Nikitina, Lubov Tchernicheva e Félia Dubrovska (As Musas). Essa foi a última colaboração européia, entre Stravinski e Balanchine.

Jogo de Cartas [Jeu de Cartes ou A Card Game]. Paris, 1936; Londres, 1937: 1947. Estados Unidos.

A nova colaboração entre Stravinski e Balanchine ocorreu com o balé Jogo de Cartas [Jeu de Cartes ou A Card Game] (Paris, 6 dez., 1936), apresentação reencenada posteriormente com o Balé Americano [American Ballet] no Metropolitan Opera House, quando G. Balanchine coreografou e I. Stravinsky regeu a orquestra (27 abr., 1937). O balé foi reapresentado com a Orquestra Filarmônica, sob a regência de Stravinski, no Concert Courtauld-Sargent, realizado no Queen's Hall (Londres, 18 out., 1937); e, com os Ballets des Champs Elysées, e a orquestra sob a regência de André Girard, reapresentado no Theater Winter Garden (Londres, 16 jun., 1947).


Balé O Beijo da Fada [Le Baiser de la Fée], com o Ballet Ida Rubinstein, Paris, 1928. Londres, 1929; 1940.

Stravinski compôs preferencialmente para os Balés Russos de S. Diaghilev; mas o balé alegórico em quatro cenas O Beijo da Fada [Le Baiser de la Fée], que o músico russo escreveu (abr. – out., 1928), e que dedicou à memória de P. I. Tchaikowski, foi apresentado com a coreografia de Bronislava Nijinska (1891-1972), com o Ballet Ida Rubinstein, sendo a orquestra conduzida pelo próprio Stravinski, no Teatro da Ópera (Paris, 27 nov., 1928). No ano seguinte o próprio Stravinski conduziu a Wireless Symphony Orchestra no Concerto da Rádio BBC (Londres, 27 jun., 1929). Stravinski extraiu dessa música o dito, Divertimento, a Suite Sinfônica para orquestra (1934, dur. 20’), apresentada com a Polytechnic Symphony Orchestra, sob a regência do maestro Arthur Dennington (Londres, 8 jun., 1940).

Stravinsky nos Estados Unidos (1939-1971).


Depois que faleceram sua mãe e sua primeira esposa, Stravinski radicou-se definitivamente nos Estados Unidos, onde ele viveu durante pouco mais de três décadas (1939-1971). Na América, Stravinski se casou novamente com Vera Sudeikina, que enviuvou do coreógrafo russo Sergei Sudeikin (Serge Sudeikine, 1882-1946), que o músico conheceu quando ela e seu marido trabalharam para os Ballets Russes (Paris, 1918-).


Balé Orfeu no Festival Stravinsky (Nova York, 1972).

Depois da primeira parceria bem sucedida, Stravinski & Balanchine, seguiram-se muitas outras obras conjuntas, entre as quais destacamos os balés Orpheus e Agon. O conjunto de qualidade excepcional das várias parcerias da dupla, foi reapresentado no Festival Stravinsky (Nova York, 1972). A fotografia de Orfeu, dançado pelo Balé da Cidade de Nova York [New York City Ballet], se encontra reproduzida (DUFOURCQ, 1974). No século XX o balé Apolo, foi um dos poucos espetáculos dos Ballets Russes que sobreviveu no repertório de algumas das companhias internacionais de dança.

Muitas obras de I. Stravinski estrearam nos Estados Unidos, como Ode, Canto Elegíaco em três partes para orquestra, dedicado à memória de Natalie Koussevitsky, esposa do maestro Serge Koussevitzky (Hollywood, 25 jun., 1943). Essa música foi reapresentada com a Orquestra Sinfônica de Boston, sob a regência do maestro Serge Koussevitsky (8 out., 1943). As Cenas de Balé [Scenes de Ballet], para orquestra, estrearam em Hollywood (23 ago., 1944); e o Concerto Negro para clarinete e orquestra [Ebony Concerto] estreou em Hollywood (1º dez., 1945); Orfeu [Orpheus], balé em três cenas (Hollywood, 23 set., 1947); The Rake's Progress. Ópera em três atos com libreto de W. H. Auden e Chester Kallman, que Stravinski compôs nos Estados Unidos (1948-1951), mas que estreou no Teatro La Fenice (Veneza, 11 set., 1951), com coro e orquestra do Teatro Scala (Milão), sendo conduzidos pelo próprio Stravinski; As Canções para William Shakespeare [The Songs for William Shakespeare], composição para mezzo-soprano, flauta, clarineta e viola (Los Angeles, 08 mar., 1954); e, In Memoriam Dylan Thomas, canção para tenor com quarteto de cordas e quatro trombones, que estreou na Segunda: Concerto Noturno [Monday Evening Concert] (Los Angeles, 20 set., 1954); Agon, balé para doze dançarinos dedicado a Lincoln Kirstein e George Balanchine, que estreou (dez., 1953), repetindo a performance (27 abr., 1957).

Duas Pequenas Suites [Deux Petites Suites], para o balé Caprichos: Sarcasmos tragicômicos de A. Milloss, pelo Ballet do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, estreou no Theatro Municipal (Rio de Janeiro, jun., 1955).

As Duas Pequenas Suites [Deux Petites Suites] de Igor Stravinski, foram a música escolhida pelo coreógrafo Aurélio Milloss (1906-1988), para a encenação do balé Caprichos: Sarcasmos tragicômicos de A. Milloss, com coreografia dele, cenários e trajes de Toti Scialoja, apresentados pelo Ballet do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo (v.), encenado no Theatro Municipal (Rio de Janeiro, jun., 1955).

Outras composições de Stravinski, começando com Epitáfio para flauta, clarinete e harpa [Epitaphium. Für das Grabmal des Prinzen Max Egon zu Fürstenberg, 1959), que estreou no Festival Donaueschingen (Alemanha, 17 out., 1959); as Três Canções Sacras [Tres Sacrae Cantiones] (medievais), de Carlo Gesualdo di Venosa, reconstruídas por Stravinski e que estrearam com o Grupo Bach (Londres, 2 maio, 1960); os Três Madrigais Medievais, reconstruídos por Stravinski (Momentum pro Gesualdo di Verona ad CD annum), estrearam em Hollywood (mar., 1960); Um Sermão, uma Narrativa e uma Prece: Cantata para solista alto e tenor, narrador, coro e orquestra [A Sermon, a Narrative and a Prayer] (1960-1961), que o compositor dedicou a Paul Sacher, obra que estreou com a Orquestra de Câmera de Basle sendo conduzida pelo maestro Paul Sacher (Suíça, 23 fev., 1962); Anthem, para coro misto à capella, com as palavras que T. S. Eliot escreveu em Four Quartets, obra dedicada ao escritor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura Thomas Stern Eliot (Hollywood, 2 jan., 1962); A Enchente [The Flood], peça musical com texto escolhido e arranjo do maestro Robert Craft, baseado no Livro do Gênesis e nos Ciclos de Peças dos Milagres Chester e York, escritas entre 1430-1500 (14 mar., 1962); Abrahão e Isaac, Balada Sacra para barítono e orquestra de câmara, dedicada ao Povo de Israel [Abraham and Isaac], que estreou com a Orquestra Festival de Israel sob a regência de Robert Craft (Jerusalém, 3 mar., 1963); a Canzonetta de Jean Sibelius, com arranjo orquestral de I. Stravinski (1963); a Elegia para J. F. Kennedy para mezzo-soprano, barítono e três clarinetes, com palavras de W. H. Auden, [Elegy for J. F. Kennedy] (Hollywood, mar., 1964); a Fanfarra para um novo teatro para dois trumpetes [Fanfare for a new theatre], que Stravinski dedicou a Lincoln Kirstein e George Balanchine que estreou no State Theater no Lincoln Center (Nova York, 19 abr., 1964); as Variações In Memoriam de Aldous Huxley para orquestra [Variations, In Memoriam of Aldous Huxley] (28 out., 1964), que estreou com a Orquestra Sinfônica conduzida por Robert Craft (Chicago, 17 abr., 1965), que, no mesmo ano conduziu a Orquestra Filarmônica, no concerto realizado na Polônia (Varsóvia, 28 maio, 1965); Introitus, outra obra de Stravinski, In Memoriam de T. S. Eliot, destinada a conjunto orquestral e côro masculino, que estreou em Hollywood (17 fev., 1965); Cantos Requiem [Requiem Canticles], para contralto, baixo, coro e orquestra, dedicados a Helen Buchanan Seeger, datados por Stravinski (13 ago.), que estrearam com a orquestra da Universidade de Princeton, sendo conduzida pelo maestro Robert Craft (8 out., 1966); e, finalmente, A Coruja e a Gatinha [The Owl and the Pussy-Cat], canção para voz e piano dedicada à sua esposa Vera Stravinsky, que estreou nos Monday: Evenings Concerts, com Peggy Bonini e Ingolf Dahl (Los Angeles, 31 out., 1966). Essa foi a última composição de Stravinsky: o músico sobreviveu à série de infartes do miocárdio, mas morreu de falência cardíaca (6 abr., 1971).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, D. (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, pp. 52-53, 54-55.

FERRAZ, S. Igor Stravinsky. São Paulo: Notas do programa da O.S.P., 2003, pp. 115, 117, 148-150.

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 580.

KENNEDY, M. The Oxford Dictionary of Music. Oxford: Oxford University Press, 1985, p. 701.

SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 10, 22-32, 37-62, 71, 74-75, 80-81, 100, 106-107, 119-120, 125, 154, 161-163.

THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth Century Composers, 1911-1971. London: Farber and Farber, 1973, pp. 566-606.

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