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Friday, May 15, 2015

BIOGRAFIA: ANDRADE, Mário de (1888-1945).

BIOGRAFIA: ANDRADE, Mário de (1888-1945). O escritor, crítico de arte, jornalista, articulista, romancista, folclorista, professor catedrático de Estética e História da Arte no Conservatório Dramático e Músical de São Paulo, além de músico (pianista), e escritor brasileiro, Mário de Andrade teve, entre inúmeros outros, o mérito de amealhar coleção de arte de gabarito internacional (1921-1945), O intelectual doou as 631 obras que compunham sua coleção para o IEB - USP.. Esta coleção conta com obras de Cândido Portinari Emiliano Di Cavalcanti (1921-1945), Lasar Segall (1921-1945), , Anita Malfatti (1921-1945), Tarsila do Amaral (1921-1945) , Alberto da Veiga Guignard (1921-1945), Alfredo Volpi (1921-1945), Pancetti (1921-1945), Cícero Dias (1921-1945), além de obras de artistas das vanguardas internacionais, como André Lhote (1921-1945), Paul Klee (1921-1945), Marc Chagall (1921-1945), Claude Renoir (1921-1945) e Pablo Picasso, entre outros. Todas as obras se encontram no acervo do MAC e IEB - USP. O primeiro contacto de Mário com a arte aconteceu na mostra revolucionária de Anita Malfatti (São Paulo, 1917-1918). Essa artista, que foi aluna de Lovis Corinth (1921-1945) na Alemanha, retornou ao Brasil com obras impregnadas pelo Expressionismo, movimento de ponta nas vanguardas alemãs, apresentando retratos deformados em cores ácidas. Andrade ficou fascinado com o Homem Amarelo, a primeira obra que adquiriu para sua coleção; contam que o escritor voltou várias vezes à mostra de A. Malfatti, a fim de apreciar essa pintura, que ele adquiriu bem depois desta época. Coube depois a Mário de Andrade a árdua tarefa de defender Malfatti, em artigos através da imprensa da época, contra os ataques contundentes de Monteiro Lobato, que perturbaram enormemente a artista e afastaram-na durante anos da arte, e mais grave ainda: afastaram-na de sua modernidade precursora. Malfatti, que expôs obras na Semana de Arte Moderna, nunca mais foi a mesma depois dos ataques contundentes de Lobato. Podemos dizer que Malfatti acomodou-se, pois suas obras pararam de evoluir no sentido das vanguardas que a artista abraçou anteriormente. Na mostra, a coletiva da dita, Semana de 22, que ocorreu no saguão do Theatro Municipal de São Paulo, Mário adquiriu duas obras de Emuiliano Di Cavalcanti: Retrato de Moça e Mulher de Pé. M. de Andrade escreveu várias críticas favoráveis sobre Di Cavalcanti, no decorrer da carreira do pintor. Andrade apaixonou-se pela pintura de Vicente do Rêgo Monteiro, um dos primeiros artistas brasileiros realmente internacionais; Rêgo viveu em Paris, onde triunfou com arte de raiz brasileira. Andrade adquiriu a obra do artista em exposição na Semana de Arte Moderna, e, bem depois desta época, tornaram-se amigos, Rêgo não compareceu à mostra, mas enviou suas obras de Paris, onde vivia. Tarsila do Amaral foi outra artista que, quando voltou ao Brasil depois de uma de suas estadias em Paris, trouxe a pintura Jogadores de Futebol, que adquiriu de André Lhote, a qual ela presenteou à Oswald de Andrade. Mais tarde a obra passou a pertencer à coleção de Mário de Andrade, que adquiriu vários desenhos do pintor Cícero Dias. As guaches e aquarelas desse pernambucano. representaram a versão tropicalista da influência de Marc Chagall (1887-1985) na arte brasileira, com o tempero único e nordestino de Dias. M. de Andrade acrescentou à sua coleção várias obras de Tomás Santa Rosa, Guignard, Henrique Goeldi, Flávio de Carvalho, Francisco Rebolo, Clóvis Graciano, Hugo Adami e Antonio Gomide. A Cabeça de Cristo (1920), de Vítor Brecheret que retratou Cristo com trançinhas rastafari no cabelo, participante da Semana de 22, foi adquirida por Mário, que acrescentou à coleção a xilogravura Guerra (1913), de Lívio Abramo, pintura que recebeu influência do Expressionismo alemão. Andrade adquiriu de Cândido Portinari A Colona (1935, têmpera/ tela, 97 cm x 103 cm), e de Anita Malfatti, acabou reunindo 20 obras, inclusive o Homem Japonês, aos quais reuniu aos seus três retratos com dedicatórias carinhosas que a artista fez do colecionador. Andrade publicou seu primeiro livro de poemas com o sobrenome de Sobral: Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, ao qual seguiu-se Paulicéia Desvairada, retrato da metrópole feérica (1922); no mesmo ano, lançou a obra-prima da cultura nacional, Macunaíma. Posteriormente Andrade publicou O Losango Cáqui (1928). Na época da publicação da Revista do Brasil, e da Revista de Antropofagia (1928-1929), com as quais colaborou. Andrade ficou conhecido de todos os intelectuais modernistas da geração de Oswald de Andrade e de Tarsila do Amaral; ele se tornou um dos organizadores da Semana de 22, ocasião em que participou das inúmeras reuniões de organização da mesma, que aconteceram na garçonière que Oswald de Andrade mantinha em São Paulo (1922-1924). Mário participou da famosa e mais do que conhecida fotografia publicada dos patrocinadores da Semana e pertenceu ao Grupo dos Cinco da arte brasileira. O escritor, no segundo semestre de 1922, estreitou os laços afetivos com Tarsila, Oswald de Andrade, Malfatti e Menotti del Picchia. Malfatti se interessou em levar adiante romance com M. de Andrade, que nunca se casou, fato que depois repercutiu de forma nefasta quando Oswald de Andrade atacou os intelectuais paulistas. Na época que o modernista Oswald perdeu tudo, até mesmo a esposa Tarsila do Amral (1929). Nessa fase Oswald atacou cruelmente Mário, chamando-o de Miss Macunaíma, entre outros apelidos que aludiam à homossexualidade de Mário de Andrade. Esses ataques públicos, através da imprensa, magoaram profundamente à M. de Andrade, que rompeu para sempre com Oswald. Seu amigo e editor Murilo Miranda, que publicou a Revista Acadêmica, de que Mário foi mais do que um colaborador, foi o verdadeiro mentor intelectual, certa vez, jantou com Oswald de Andrade. Miranda, que trocou extensa correspondência com Mário de Andrade, relatou o evento detalhadamente na carta que escreveu e enviou (1944). Na resposta a Murilo, carta publicada da correspondência trocada entre ambos, datada de 10-VII-1944 (grafia de Mário), o escritor comentou o encontro de Murilo com Oswald de Andrade, usando palavras fortes e desabonadoras. Andrade escreveu, a pedido de vários artistas, textos para convites de exposição e para números especiais publicados por Murilo Miranda, na Revista Acadêmica, dedicados a Cândido Portinari (1940), Tarsila do Amaral (n. 51, setembro, 1940), Carlos Drummond de Andrade (n. 56, julho, 1941), Lasar Segall (n. 64, junho, 1944), Bruno Giorgi (n. 66, novembro, 1945) entre outros, dedicados à países, sendo um dedicado à França (1946) e outro ao Chile (1947). Em outra carta enviada à Miranda (11-VIII-44), Mário comentou que Segall, avisou, segundo ele, de livre e espontânea vontade, que ia dar- lhe um quadro para sua coleção. Segall fez o que Mário considerou uma grosseria, uma falta de educação: depois da publicação do artigo na Revista Acadêmica (1941), mencionou que Mário deveria ir visitá-lo para receber umas gravuras. Mário visitou Segall muitas vezes e nunca recebeu nada, fato que M. de Andrade comentou na citada carta à Murilo Miranda. Mário nunca trocou favores ou obras de arte por textos de sua pena: ele comentou com Murilo sua repugnância por esta atitude, que não considerava ética, na mesma carta a Miranda (11-VIII-44). Quando rompeu com O. de Andrade, o escritor rompeu também com Tarsila do Amaral; a artista tentou reaproximar-se de Mário, que viajou com sua filha Dulce, ainda adolescente, na Expedição Mário de Andrade rumo à Amazônia, junto com D. Olivia Penteado Guedes (1927). Na época a relação do grupo florescia e foi publicada a fotografia de M. de Andrade, dançando em pose jocosa com Dulce, vestida com tutu de bailarina. Na carta a Murilo Miranda (22-1–1940), Mário comentou sua recusa ao convite de Tarsila, para passar o carnaval na fazenda dela. O Instituto Brasil-Estados Unidos [IBEU], inaugurado no Rio de Janeiro (1937), patrocinou uma série de palestras que publicou sob o tema Lições da Vida Americana, e dedicou o terceiro livro desta série à pesquisa de Mário de Andrade, A Expressão Musical nos Estados Unidos (1940). M. de Andrade havia publicado no jornal Diário de Notícias, uma série de artigos sobre A Música na América do Norte (julho, 1913). M. de Andrade escreveu muito, foi o caso de escritor que viveu de literatura: ele inventou a grafia de um novo idioma, com palavras que popularizou como “milhor” (melhor), “si” (se), “chiquê” (corruptela de chic), entre outras que abrasileirou, tirando a inspiração do idioma realmente falado. Mário de Andrade trocou extensa correspondência com Pio Corrêa, cartas que foram publicadas como Pio e Mário - Diálogos da Vida Inteira (São Paulo: Ed. Ouro Sobre Azul - SESC, 2009, 424 p.). Na extensa correspondência de M. de Andrade, ele trocou cartas com Manuel Bandeira, Cândido Portinari, Fernando Sabino, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Luís da Câmara Cascudo, entre outros; as cartas agora reveladas reúnem a sua mais extensa correspondência, pois foram 84 cartas de Mário trocadas com o pouco conhecido fazendeiro Pio Lourenço Corrêa (1875-1957). Foi no sossego da Chácara Sapucaia, pertencente a Corrêa, que, em seis dias de inspiração Mário escreveu Macunaíma, quase a escrita do automatismo como a do poeta francês Artur Rimbaud, que em poucos dias escreveu os versos famosos de Une Saison en Enfer [Uma Temporada no Inferno]. A pesquisadora Gilda de Mello e Souza (1919-2005), esposa do conhecido intelectual Antonio Candido, foi autora de um detalhado estudo sobre seu tio-avô, Pio Corrêa; ela, prima em segundo grau de M. de Andrade, destacou que a chácara se transformou na Pasárgada de Mário, lembrando o poema tão conhecido de Manuel Bandeira, seu refúgio, seu vício, onde ele ia descansar das pressões da vida atribulada e se curar de tragédias como a morte de seu irmão mais moço e de seu pai. Foi Antonio Candido quem escreveu a introdução para o livro das cartas trocadas entre Pio e Mário (1917-1945). Mário, por sua vez, também foi interlocutor de Corrêa, que descreveu como homem inteligente e dos mais originais que conheceu, culto e dedicado aos estudos, e que publicou a Monografia da Palavra Araraquara além de inúmeros artigos. Pio discordava radicalmente do modernismo de Mário de Andrade: segundo o crítico Antonio Candido, o fazendeiro de Araraquara não aceitava as inovações propostas pelo escritor, conforme destacou o artigo publicado pelo jornalista Ubiratan Brasil no O Estado de São Paulo (D2, Cultura, Domingo 24 de maio, 2009). . A segunda edição de Macunaíma, publicada pela José Olympio (1937), foi ilustrada com 43 águas-fortes de Carybé, para a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. A polícia do Estado Novo apreendeu os desenhos originais de Carybé, que depois foram devolvidos a M. de Andrade, e, posteriormente publicados na re-edição dessa obra bem como no álbum prefaciado por Antonio Bento (1957). M. de Andrade viveu dois anos no Rio de Janeiro (1939-1941), quando trabalhou para o Instituto Nacional do Livro, sob a direção de Augusto Mayer (1902-1970), cuidando do anteprojeto da Enciclopédia Brasileira. No início do ano seguinte Andrade voltou a viver em São Paulo (janeiro, 1941), quando o SPAHN, dirigido por Rodrigo de Melo Franco de Andrade, encomendou-lhe estudos no interior do Estado de São Paulo e de Minas Gerais. Na época, Andrade frequentava assiduamente o Bar e Restaurante Franciscano, situado na Líbero Badaró, no centro de São Paulo, próximo ao viaduto do chá. O escritor, que trabalhava muito, prefaciou a edição de luxo das Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida, publicado pela Livraria Martins (São Paulo, 1940). Andrade publicou Música do Brasil, com a Evolução Social da Música Brasileira e Danças Dramáticas Íbero-Americanas, ilustrado por Portinari, na Coleção Azul da Editora Guaíra (Porto Alegre, 1941). As crônicas publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo (1939), foram incluídas no volume O Empalhador de Passarinho (1942), juntamente com outros textos de Mário de Andrade. Neste mesmo ano M. de Andrade proferiu sua palestra sobre o Movimento Modernista, a pedido da Casa do Estudante. A palestra foi lida no Salão de Conferências do Itamaraty (30 abril) e publicada pela Editora Casa do Estudante do Brasil (Rio de Janeiro, 1942). Os estudos de M. de Andrade sobre vários temas como Tristão de Athaíde, pseudônimo do escritor Alceu de Amoroso Lima; sobre A Poesia, em 1930; sobre Luís Aranha e a Poesia Preparatoriana; sobre Machado de Assis e Castro Alves; O Ateneu, de Álvares de Azevedo; sobre a Elegia de Abril e A Volta do Condor, ensaios reunidos no livro dele, Aspectos da Literatura Brasileira (Americ.- Editora, 1943). Na obra de Mário de Andrade sobressai o intenso sentimento de brasilidade, de quem acima de tudo amou o Brasil e ao país, dedicou seu tempo, sua inteligência, suas pesquisas, seus estudos e sua coleção de arte. REFERÊNCIAS SELECIONADAS DIAS, L. O Colecionador Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Arte Hoje, n. 23, maio 1979, pp. 42-47. AMARAL, 1986, pp. 88, 91, 108 ANDRADE, M. de; WERNECK DE CASTRO, M. (Org.). Cartas a Murilo Miranda, 1934/ 1945. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1981, pp. 63, 64, 75-76, 79-81, 85-92, 98, 104, 108. BRASIL, U. Livro traz cartas trocadas enttre Mário de Andrade e Pio Corrêa, seu maior interlocutor: De Mário para Tio Pio. De Tio Pio para Mário. São Paulo: O Estado de São Paulo, Caderno 02, D1, Cultura, Domingo, 24 de Maio de 2009. BRASIL, U. Pio discordava radicalmente do modernismo de Mário de Andrade: Segundo o critico Antonio Candido o fazendeiro de Araraquara não aceitava as inovações literárias propostas pelo escritor. São Paulo: O Estado de São Paulo, Literatura: Cartas, Caderno 02, D2, Cultura, Domingo, 24 de Maio de 2009. TEIXEIRA LEITE, 1988, p. 233.

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