BIOGRAFIA: EAKINS, Thomas Cowperthwaitt (1844-1916).
Nascido na Filadélfia, Eakins foi um dos precurssores do Realismo norte-americano. O artista cursou a Escola de Belas Artes da Pensilvânia e estudou desenho anatômico na Faculdade Jefferson de Medicina [Jefferson Medical College], fato que foi fundamental para a perfeição realista dasimagens dele. Eakins foi viver em Paris onde estudou pintura e escultura nos ateliês de Jean-Léon Gérome, Léon Bonnat, e Agustin Alex Dumont, na Escola Nacional Superior de Belas Artes (Paris, 1866-; v. no meu Blog: <http://arteeuropeiadevanguarda.blogspot.com>). Eakins reagiu contra o academicismo da escola parisiense e ao regime aterrorizante que reinava no ateliê de Gérome.
Eakins viajou nas férias de verão para a Itália e Alemanha (1868); e para a Espanha (1869). Nesse último país admirou a obra de Velasquez e passou seis meses em Sevilha. Quando Eakins voltou à Filadélfia nunca mais viajou: ele posteriormente casou-se (1884) com a pintora, pianista e fotógrafa, Susan Hannold MacDowell (1851-1938).
Na época em que tudo era pintado de forma alegórica e romântica o artista passou a pintar a vida da comunidade a que pertencia, mas suas obras não foram aceitas devido ao fato de apresentar visão extremamente crua da realidade. Eakins invadiu suas telas com o claro – escuro europeu, utilizando temas como retratos de personalidades, corridas de cavalos, caçadas e caçadores. O artista pintou uma de suas obras-primas, A Clínica Grass (The Grass Clinic, 1875), com visão fotográfica de aula de anatomia, mostrando operação realizada no paciente da Faculdade Jefferson de Medicina que Eakins frequentava. A pintura tornou-se extremamente chocante para seus contemporâneos. Eakins ousou, mas seu realismo sofreu grande rejeição por parte da sociedade da Filadélfia.
Além de excelente desenhista, aquarelista, pintor e professor, Eakins tornou-se excelente e dedicado fotógrafo; ele foi amigo de Eadweard Muybridge (publicarei biografia posteriormente). Eakins trabalhava com câmera de gabinete de madeira usando negativos de placa de vidro revelados no processo de impressão à platina. Para Eakins o resultado da câmera tornou-se comparável ao desenho anatômico, instrumento de pesquisa que, segundo ele, todo artista moderno deveria utilizar para treinar o olho, para visualizar o que realmente estava diante de seus olhos.
Ainda resiste como mistério quando e como Eakins aprendeu a fotografar: no entanto podemos afirmar que em 1880 o artista havia incorporado a câmera na sua vida pessoal e profissional, fotografando muito. A maioria da fotografias atribuídas a Eakins são estudos de figuras, nuas e vestidas, além de retratos de seus alunos, dele e de sua família, além de estudos de movimentos. Na Coleção Begler, acervo da Academia de Arte da Filadélfia, existem 225 negativos de fotografias de Eakins; existem mais de 800 fotografias atribuídas a Eakins e seu círculo de amigos próximos.
Eakins utilizou a fotografia para apreender a realidade, muito mais do que usou como estudo preparatório para suas pinturas; no entanto existem alguns exemplos da utilização da fotografia do artista como modelo parcial de suas pinturas, exemplos existentes no Museu Amon Carter (The Swimming Hole) e na Arcadia do Museu Metropolitano (Nova York). Enquanto professor Eakins utilizou a câmera como elemento fundamental para o estudo da arte. Treinado por um grande mestre francês da pintura e escultura, Jean-Léon Gêrome, Eakins ensinou a observação minuciosa, através da pratica da dissecação no preparo da moldagem de escultura na cera e gesso.
No início de sua fotografia Eakins realizou estudos rápidos de gestos e poses; no entanto, devido ao desenvolvimrento do processo posterior de lenta passagem da fotografia editada e cortada, para depois tornar-se grandes impressões de platina, Eakins passou a considerar as fotografias como verdadeiras obras de arte sobre papel. Aliás este foi o papel dos artistas-fotógrafos americanos, como Alfred Stieglitz (v. biografia, abaixo), destacado entre os primeiros a elevarem a fotografia ao status de obra de arte autônoma sobre papel como o desenho e a aquarela. Eakins realizou vários estudos de nus frontais masculinos: essas obras de arte fotográfica de grande força imagética, ainda hoje, mais de 100 anos de sua criação, ainda nos permitem imaginar como pareceram extremamente chocantes no seu próprio tempo de criação.
Eakins pintou Rio Skulkiel [Skulkiel River], obra apresentada na Exposição Universal (Filadélfia, 1876). O artista pintou uma mulher nua, real e natural, estética que passou a adotar nas suas obras. Na época, as formas dos nus femininos sempre eram apresentadas como figuras distantes e mitológicas, alegorias do gênero Vênus, Nereidas e Sereias, entre outras. O artista tornou-se professor da Academia de Belas Artes da Pensilvânia (1876-1886) e ascendeu ao posto de diretor. No entanto, devido a notória insistência de Eakins de que modelos nus participassem ao vivo das aulas de desenho anatômico, a que compareciam estudantes do sexo feminino,devido à forte pressão social o escândalo provocado pelo fato resultou na destituição dele do ensino acadêmico (1886). Eakins foi ensinar na Liga dos Estudantes de Arte [Arts Students' League]; ele foi professor na instituição por 7 anos, local onde encerrou sua carreira no magistério (Filadélfia, 1890).
Eakins havia vendido apenas 9 pinturas, entre as que produziu até seus 56 anos de idade; o artista não tinha sucesso financeiro ou pessoal e, até então, havia recebido raríssimas encomendas. O artista sentia na pele todo o peso da rejeição dos seus contemporâneos, até o inicio de 1900; a partir do ano seguinte suas obras foram reconhecidas (1901). No entanto, somente décadas mais tarde a obra de Eakins passou a ser celebrada como notável contribuição para a arte das vanguardas norte-americanas. Entre as pinturas de Eakins destacamos a obra com o tema da luta de boxe: Entre os Rounds (1899, óleo/ tela, 127,6 cm x 101,6 cm, doação da Sra. Thomas Eakins para o Museu de Arte da Filadélfia); e Música (1904, óleo/ tela, 100,9 cm x 126,3 cm, na Galeria Albright - Knox, Buffalo, NY), que se encontram reproduzidas (BUTOR, 1992).
REFERÊNCIAS:
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color., pp. 47, 274. 25,5 x 36,5 cm.
BUTOR, M.; MARTIN, J.; MASSU, C.; NICHOLS, S., PARIGORIS, A.; RIOUT, D.; TRAVIS, D. BUTOR, M (Pref.). L'Art des États-Unis. Traduction de Christiane Thiollier et Dominique Ferrault. Paris: Citadelles et Mazenod, 1992. 637p: il., color., pp. 234-235.
DICIONÁRIO. CHILVERS, I. The Concise Oxford Dictionary of Art and Artists. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1990. 517p. (Oxford reference), p. 143.
ENCICLOPÉDIA. DUTTON, E. P.; STEINER, P. Encyclopaedia of American Art. New York: E. P. Dutton - Chanticler Press, 1981, p. 156.
TOBLER, J. DYER, B.; GREENE, D: GREENBERG, A.; HARRISON, H.; MILLS, S.; GOODVE, T. N. The American Art Book. London: Jay Tobler. Phaidon Press, 1999, p. 133.
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