BIOGRAFIA: HOPPER, Edward (1882-1967).
Hopper nasceu em Nyack, no Estado de Nova York; foi um dos artistas que estudou desenho de ilustração na Escola de Ilustração por Correspondência (Correspondence School of Illustrating, 1899-1900). Posteriormente Hopper foi aluno de Kenneth Hayes Miller (1876-1952) e de Robert Henri (1865-1929), na Escola de Arte de Nova York (1900-1906). O professor Henri foi aluno de Thomas Eakins (1844-1916), grande precursor do Realismo Americano. Eakins estudou em Paris com Jean-Léon
Gerome (1824-1904), na melhor tradição acadêmica francesa mas teve que suportar esse mestre competente e rígido no ateliê no qual reinava regime aterrorizante. Eakins reagiu contra o academicism (DANTO, 1997) e Hopper tornou-se herdeiro deste rompimento com a tradição. Hopper viajou e estudou em Paris durante três períodos distintos: ele passou 9 meses na cidade na época da explosão da vanguarda Fauvista (1906-); depois passou 6 meses (1909), quando viu o início do movimento do Cubismo (1908-); finalmente Hopper viajou através da França e Espanha durante 4 meses (1910).
De volta a Nova York Hopper expôs com o grupo de alunos de Henri, com a geração de artistas do dito, Grupo dos Oito, também intitulado de Realismo de Nova York, para qual Robert Henri organizou a primeira mostra histórica das vanguardas norte-americanas na Galeria Macbeth (Nova York, 1908). Hopper também expôs na Exposição da Armada (Armory Show, 1913, v. abaixo), a primeira mostra das vanguardas internacionais na América.
Hopper trabalhou como desenhista publicitário e ilustrador, pintando somente no seu tempo livre; sua primeira mostra individual foi no Clube Estúdio Whitney (Whitnery Studio Club, 1920), que posteriormente tornou-se o Museu Whitney de Arte Americana, seguida de outra exposição individual no mesmo local (1922). Hopper abraçou outras técnicas como gravura em água-forte (1915-), pintura a óleo (1920-) e aquarela (1923-). Hopper passou a viajar passando todos os verões em Cape Cod (South Truro, Massachussetts, 1930-), onde construiu uma casa (1934), voltando sempre no decorrer de sua vida, até na velhice avançada.
O artista realizou longas viagens de automóvel pelo continente americano até o Canadá, junto com sua esposa Josephine. Hopper chegou à costa oeste americana de carro (1941), foi ao México de comboio (1943); e de automóvel até Saltillo (1946). Hopper realizou duas outras viagens ao México (1951; 1952-1953). Durante suas viagens Hopper pintou quase todas as suas aquarelas. Hopper pintou a América da depressão dos anos 1930, a melancolia e a solidão que marcaram profundamente o artista e percorreram toda sua obra. Regionalista, no cerne da Nova York urbana, Hopper voltou da Europa impregnado da forma da luz e da sombra na paleta de cores sóbrias, estabelecendo rigoroso senso de perspectiva no desenho no qual eliminou todos os detalhes supérfluos.
No âmago de sua modernidade figurativa Hopper impregnou suas obras do senso quase imperceptível de origem européia, Cubista e Cézanista. Hopper pintou jovens que esperavam o serviço em restaurantes e cafeterias deprimentes, como em Chop Suey (1929, óleo /tela, 81,3 cm x 96,5 cm); interiores de melancólicos motéis baratos como Quarto no Brooklyn (Room in Brooklyn, 1932), salas de espera de cinemas como Cinema Nova York (1939, no MoMA, Nova York), postos de gasolina como Gasolina (1940, id.), mulheres que esperam nos degraus de maciços edifícios como em Verão (1942, óleo/ tela, 74 cm x 111,8 cm, Museu de Arte de Wilminghton, Delaware); lanchonetes com personagens solitários e errantes da noite das grandes cidades como Falcões Noturnos (Nighthaws, 1942, no Instituto de Arte de Chicago): Noite Estival (1947, óleo/ tela, 76,2 cm x 106,7 cm); Motel do Oeste, onde pintou a solitária espera de uma mulher (1957, óleo/ tela, 76,8 cm x 127,3 cm, na Galeria de Arte da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut); a visão através do vidro de secretárias de escritórios desolados como em Escritório em Nova York (1962, óleo/ tela, 101,6 cm x 139,7 cm, na Coleção do Museu de Belas Artes de Montgomery, Alabama). Nas suas imagens o artista transmitiu toda a solidão da metrópole, a desolação da vida do lado deprimente e pobre da cidade e do campo, com claros e escuros magistrais que impregnaram suas pinturas do Realismo de Nova York, que incluiu muita arquitetura das décadas de 1930-1940.
Obras de Hopper foram incluídas na mostra Pinturas de Dezenove Americanos Vivos (1929) no MoMA, o mais importante templo da arte norte-americana. O diretor do museu, o lendário Alfred Barr elogiou Hopper, no texto do catálogo da mostra individual que ofereceu ao artista, quando elevou-o à categoria de
[...] o mais excitante pintor na América [...] (Barr, 1933).
Hopper foi expoente da vanguarda moderada, e pouco definida; o artista sentiu-se ameaçado pelo Abstracionismo que conheceu em Paris, mas que, enquanto distante, não pertubou-o. Porém Hopper temeu quando o movimento chegou com força total à América, coma ruptura dos pintores do Expressionismo Abstrato, que ocorreu no início da década de 1940 e tomou impulso definitivo na década seguinte (1951).
As vanguardas norte-americanasestavam sedentas por renovação:
na dita Pintura de Ação, o gestual enérgico de Jackson Pollock entre outros, cada tela tornou-se arena de combate, grande superfície de trabalho a ser conquistada. Hopper perdeu em um átimo o seu prestígio de mestre das vanguardas americanas; foi substituído por Polocck, novo rei da modernidade, especialmente depois que a revista LIFE (Henry Luce) perguntou ao país:
- Jackson Pollock: é ele o mais importante pintor vivo nos Estados Unidos? (Jackson Pollock: is he the greatest living painter in the United States?)
A América disse sim. Pollock tornou-se o novo conquistador das vanguardas; Hopper foi destronado, no entanto, nunca foi esquecido. O cerne de sua luz invernal aqueceu e aquecerá para sempre a modernidade deste artista, que pintou os símbolos de consumo da sociedade urbana e industrializada, da América mergulhada na grande depressão, na violência e na repressão puritana dos anos 1930-1940. Hopper foi o artista que melhor captou na arte este momento melancólico da vida do país e tornou-se para sempre um dos expoentes do dito Realismo Americano, que 30 anos mais tarde refletiu-se na sua influência no Híper-Realismo [Hyper-Realism], movimento importante das vanguardas no país nas décadas de 1960-1970.
O artista deixou em testamento a maioria de suas obras, bem como todo o conteúdo de seu estúdio para o Museu Whitney de Arte Americana, que dedicou-lhe inúmeras mostras retrospectivas (1950; 1964; 1971; 1980). O artista foi representado na Bienal de Veneza (Itália, 1948; 1952); na sua mostra retrospectiva de grande sucesso no Museu Whitney, itinerante ao Instituto de Artes (Chicago, 1964); na Bienal Internacional (São Paulo, Brasil, 1967); no Museu Cantini (Marselha, França, 1989) e no Museu Rath (Genebra 1991-1992), entre outros.
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
BREUILLE, J.-P. L'Art du XXe Siècle. Dictionnaire de Peinture et Sculpture. Paris: Larousse, 1991, pp. 385-386.
BUTOR, M.; MARTIN, J.; MASSU, C.; NICHOLS, S., PARIGORIS, A.; RIOUT, D.; TRAVIS, D. BUTOR, M (Pref.). L'Art des États-Unis. Traduction de Christiane Thiollier et Dominique Ferrault. Paris: Citadelles et Mazenod, 1992. 637p: il., color., p. 109.
DANTO, A. After the end of art - contemporary art and the pole of history. Princeton: Princeton University Press, 1997, pp. 115-117
RENNER, R. G. HOPPER. Taschen Posterbook. Tradução de Lucília Filipe. Colônia: Benedickt Taschen Verlag, 1995.
TOBLER, J. DYER, B.; GREENE, D: GREENBERG, A.; HARRISON, H.; MILLS, S.; GOODVE, T. N. The American Art Book. London: Jay Tobler. Phaidon Press, 1999, p. 213.
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